Pretendo mostrar minhas histórias com músicas e poemas, sempre dizendo o que penso.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Ócio
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Posso Ser
O que você procura
Mas em meus sonhos mais fundos me torno
Sua luz na noite mais escura.
Lá posso ser seu ar
Seu mar, sua lua, suas estrelas
Lá posso me tornar
A pessoa que mais desejas.
Eu sei que cá estou
Longe de ti
Mas posso sonhar enquanto vivo
Em ti.
Às vezes sonho, inquieto
Com cores e sons e cheiros.
Às vezes penso
Que podia ser mais verdadeiro.
Às vezes quero ser seu ídolo
Seu mais fundo desejo
Mas realmente só sou mais
Um em desespero.
Querida, poderia ser o que quisesse
Mas não me eternece
Ser poeta.
Faço de tudo pra chegar a ti
E vivo a teu lado contanto que viva em mim
Se não souber meu coração
Aí está: é teu.
Garota, às vezes penso que não me conhece
Olha pra mim e não me reconhece
Conversa comigo e não percebe
Que as batidas do meu coração gritam seu nome.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Janela
As luzes dançam grãos de poeira, num vórtex desenfreado, tão incompreensível quanto o fantasma daquela janela, meio-aberta, meio-fechada, desconhecida em sua pura filosofia.
Eu não sei se o que me incomodava era a janela ou a luz. Luz demais. O velho Sol me acordava com rajadas cada dia mais vorazes, engolindo-me em seu calor, a despeito do meu óbvio cansaço e velhice.
E a janela ventava horas, dias, semanas. Eu, já desistente, rendo à tentação de mudar. Mudar tudo. Trocar de janela não bastaria. Eu ainda lembraria da tristeza da janela anterior e do ócio que me impedia de fechá-la.
Através dela, uma rua malvista, morta, decadente.
Nada pior que o desespero da tentação. A preguiça acalentava meu corpo para que não levantasse, para que ficasse quieto, deitado, e dormisse.
Mas a janela, a rua e o Sol me perturbavam demais. Estava com raiva da Velha Estrela. Acostumei-me com sua presença desde meus tempos pueris, e hoje, quando o demônio da velhice bate à porta, o Sol presente castiga meu velho corpo, com a luz ressecando-me e o calor sufocando-me.
Decididamente, se cedesse ao ócio dormiria, e provavelmente não acordaria. Por isso - e essa foi a decisão mais dura que já tomei -, levantei minha carcaça humana, estalando minhas juntas, e caminhei, lentamente, à janela.
E lá eternizei sua complexa filosofia, fechando-a.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Sociedade
Que olham para o futuro, em depressão.
Coitados dos rostos vazios dos ricos
Que olham pro nada, sem expressão.
Que se preocupam demais com as coisas.
Que não sorriem.
Que não vivem.
Como são lindos os olhos burgueses!
Pintados, lacrados, importados
Dos países siliconados.
Como são lindas as lentes multicores
Que fazem do pobre mais pobre
- Mão-de-obra -
E do humano menos humano.
E ainda assim, os olhos vazios dos burgueses,
Têm o poder, a Câmara
E a opressão.
Como são belos os olhos burgueses!
Perfeitos, industrializados, dominados
Pela exaustão.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Doce-Amargo
Sistema
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Sociedade
Se nem pergunto, sou preguiçoso.
Se quero saber dos meus amigos, sou 'largadão'.
Se não saio, sou bicho-do-mato.
Se converso, dou bobeira.
Se sou calado, antissocial.
Se procuro alguém, sou incompleto.
Se gosto de alguém, sou irracional.
Se critico, sou pedante.
Se não critico, sou 'sem-sal'.
Se gosto, não tenho gosto
Mas se não tenho gosto, como gostei, afinal?!
Se amo sou desalmado.
Se não amasse, iludido.
Se gosto, 'galinha'.
Se não gosto não sou querido.
Se vivo ao máximo, doido.
Se não, retroativo.
Se gosto de todos sou coitado
Se sou platônico, menino.
Se corro atrás do destino sou desesperado.
Se deixo ir com a maré, sou despreocupado.
Se digo que amo, é menitra.
Se digo que odeio, é verdade.
Se afirmo que foi sarcasmo, discordam.
E talvez até saibam melhor minhas expressões
Do que eu mesmo.
Se sou sucesso, 'me acho'
Se não, 'sou apagado'.
Se odeio a sociedade, sou revoltado.
Se não, sou mauricinho.
Críticas diretas e incessantes.
Sociedade que pega e mata.
Pressões de todos os lados.
Trabalhos.
Raiva.
Vida.
domingo, 4 de setembro de 2011
Seria Assim
E muito menos do jeito que a sociedade quer
Seria só o nosso jeito, nossa vida
Nosso mal - me - quer.
Poderia ser do seu jeito
Que aos puquinhos cederia ao meu
Mas nosso espaço seria só nosso
Nem meu, nem seu.
Nossa casa não seria apenas uma casa
Seria um canto, o 'nosso' lugar
Seria onde faríamos o que quiséssemos
E conquistaríamos o título de 'lar'.
Faríamos assim: Não cederíamos às pressões
Nem dos outros, nem minhas ou tuas
Não seria paixão, nem envolveria obrigações
Seríamos só nós, no nosso lugar, nossas luas.
Todo dia acordaríamos quando quiséssemos
E viveríamos do nosso jeito.
Eu acordaria antes de você
E lhe traria café na cama.
Você sorriria
E eu sorriria também
Eu pensaria
Que outro sorriso como o teu, ninguém tem.
Eu saberia, lá no fundo,
Que nada passaria as mãos do tempo
Que algum dia você me deixaria
E sim, eu choraria.
Também temos sentimentos
Também temos medo do tempo.
Mas o que eu mais queria era um lugar
Livre de medo.
Um lugar livre, onde você sorriria.
Não haveria choro, e faríamos o que quiséssemos.
Você escolheria algo
E eu concordaria.
Para lhe fazer sorrir.
À noite, você teria um medo infantil do escuro
Mas eu estaria lá.
Onde mais?
Ao teu lado, e teus medos se dissipariam.
E os meus também.
E de manhã, quando acordasse
Eu pensaria
Que sorriso igual ao teu, niguém tem.
Eu viveria feliz
Contanto que você estivesse feliz
E nós estaríamos longe de tudo
Longe da sociedade
Longe das humilhações.
Eu, acima de tudo, riria com você
E seria eu mesmo.
Gostaria de estar contigo
E a faria feliz.
E é assim que as coisas deveriam ser.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Compacto
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Penso
Que separa a desgraça
Da virtude.
E eu penso que ela é tênue demais
Para a maioria das pessoas.
Que como se percebe a diferença?
Vivendo a diferença.
E temendo-a no coração.
De uma ponta a outra,
O preconceito não tem fim.
E agora, que o fim aproxima-se
Me pedem por respostas.
Ora, bastardos!
Me excluem por meus defeitos
Depois choram minhas qualidades?
Isso é simples preconceito.
Que fazem senão difamar-me?
Vivenciam o prazer
Através do desprezo.
Ainda haverá vingança.
Porque existe ressentimento.
Toda ação
Temr reação.
E o fim
Está próximo.
Voces verão.
domingo, 28 de agosto de 2011
Beco de Mundo
No escuro.
No frio.
E nada muda.
Nada sai do lugar.
Sensações
De mundo parado.
De nada.
De nada mudar.
Coitado do mundo.
Coitado.
Não vai mais girar.
O Sol já não nasce mais
É sempre a mesma coisa
Nunca mudar.
O mundo já vai pra dois caminhos
Ou morre sozinho
Ou começa a chorar.
Coitados dos inúteis humanos
Que tentam, profanos,
O mundo mudar.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Impossibilidade
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Atualidade
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Tristeza
terça-feira, 26 de julho de 2011
Ícones
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Coração Fraco
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Liberdade
domingo, 10 de julho de 2011
O Que Se Passa
sábado, 9 de julho de 2011
Calmaria
segunda-feira, 27 de junho de 2011
(In)Versos
quarta-feira, 15 de junho de 2011
O Mar
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Lápis e Papel
Xadrez
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Indústria
terça-feira, 17 de maio de 2011
Vento
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Te Esperei
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Céu
Ou a mil quilômetros
De distância
E ainda assim estarei aqui
Porque é o mesmo céu
E o mesmo mar.
É o mesmo azul.
São as mesmas luzes,
Os mesmos sorrisos,
De diferentes pessoas.
O céu corre
E discorre
Esse pleno azul
Ao longo do tempo e da distância.
Ele corre - voa -
E leva nuvens com ele
Dum lado à outro.
E gira. E se move, estático cobalto.
Carrega com ele estrelas
Que olho à noite.
Mexe as marés com a lua e mexe-nos, homens.
Interfere nas crenças e nos amores.
Marca tempos, muda locais
E permanece o mesmo, sempre o mesmo.
O mesmo azul, o mesmo céu.
E isso conforta-me.
Além do mais, mantém minha sanidade
E me distancia da loucura.
E quanto mais eu penso, eu concluo
Que o céu é perene
Já a terra, os homens...
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Desorganização
Amanhã
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Momento
Festa
quinta-feira, 31 de março de 2011
Ele & Ela
Ela pensa em como ele está bonito hoje.
Ele pensa nas suas curvas.
Ela pensa em como eles poderiam ser felizes juntos.
Ele quer saber quando irão para o seu apartamento.
Ela gosta do charme dele.
Ele gosta do seu sorriso.
Ela quer viver ao seu lado.
Ele já está pensando em outra.
Ela gosta do jeito que ele passa os dedos nos cabelos.
Ele gosta do jeito como o decote dela é.
Ela gosta da sua maturidade.
Ele gosta da sua infantilidade.
- ou seria o contrário?
Ele a observa.
Ela desfruta.
Ele escuta.
Ela lembra.
Ela: é amor.
Ele: é ardor.
terça-feira, 15 de março de 2011
Bandeira Branca
domingo, 13 de março de 2011
Sonhar
quarta-feira, 9 de março de 2011
Contato
terça-feira, 8 de março de 2011
Carteado
domingo, 6 de março de 2011
Vizinhança Pertubada
Era aquela casa. Sim, eu sabia. A voz no telefone me contou, tudo certinho, nos mínimos detalhes. Casa amarela, telhado caindo aos pedaços, na Rua Rosa.
Bati. Três toquezinhos pausados. Era a senha.
Veio uma moça. Moça bonita que você nem imagina. Pele branca como nata, um corpo delicado e generoso, rosto suave e com uma ruguinha na testa. Achei bonita. Só não gostei do cabelo. Ruiva.
Entrei. Entrei satisfeito, porque lá fora estava um toró de alagar.
Fiquei calado enquanto a moça bonita ia na cozinha buscar um chá, quando ela voltou, me mandou sentar no sofá.
Peguei o chá. Chá quente é gostoso em dia de chuva forte. Melhor ainda quando tem uma moça bonita na sua frente. Pena que puxou um cigarro da bolsa e começou a fumar. Empesteou o ambiente.
A moça começou a falar. Eu não entendia nada, tava prestando atenção nas curvas dela, embora o falatório me desse a impressão que ela fosse muito mais velha do que aparentava, e eu não ia perguntar quantos anos ela tinha. Ah, não ia, porque me falaram que é falta de educação. Mas quando ela veio me perguntar quem era eu, respondi que era o Fábio, que ela não precisava se preocupar porque eu não mordia, que eu era só mais um nesse mundão de Deus. Que eu fora ali pra falar com ela, contar meu caso, e ela contar o dela. Só queria um pouco de prosa.
A moça disse que tudo bem, então começou a falar e então eu prestei atenção e as curvas dela não me interessavam mais. Eu queria as histórias da moça.
“Bom Fábio... é Fábio né?... Bom, Fábio, vou te contar a minha história da Rua Rosa, desse Bairro das Hortências, e dos negócios que de vez em quando aparecem por aqui. Você tinha me ligado né?... Como é que conseguiu meu número?”
Falei que o número dela era conhecido de todo mundo por lá, até de você, não era? O número mais simples por aí: 0000-0001. Falei também que se ela conta o número pra alguém, vem mais gente, sim, ah se vem! Vem gente até de fora do bairro pra ver a Dona... Dona o quê mesmo?
“Dona Rosa.”
Dona Rosa? Então era o mesmo nome da rua! Pois então, vem gente até de fora pra ver a Dona Rosa, e eu vim porque alguém disse pra mim, que a Dona Rosaentende muito bem as coisas, ela sabia até porque que dava chuva, e ela conhecia tudo o que se dava pelo bairro. Tinha lá seus jeitinhos de conseguir saber. Mas eu não sabia. Por isso que eu vim, não vim? Eu vim pra saber. Pois então, Dona Rosa, comece a soltar o que você sabe.
“Pois bem, você sabe o Mário? Não? Pois então, deixa eu falar. O Mário é um velhinho que mora na Rua Rosa desde sempre. Nunca sai, nunca faz nada, e é aposentado, ainda por cima. Ganha também com doações, as quais ele gasta em cassinos. O coitado ainda tem uma esposa, uma mulher com um quarto da idade dele. Enquanto ele tem oitenta e tantos, ela tem vinte e poucos. Ele é terrível. Pessoa vergonhosa, que mancha nossa história. Ela é muito boa. Um amor de pessoa, já veio aqui me perguntar se eu estava bem infinitas vezes, me ofereceu lanches, já fizemos piquenique. Já vou te contar o que o Mário fez com a coitadinha da Vivi. Ah, é, esqueci de contar, o nome dela é Viviane.”
“Mas antes vou te falar desse pessoal que mora na rua. Já conhece o Mário e a Vivi, mas espera só que eu vou buscar mais chá e você não sai daqui, hem? Espera que te conto o resto.”
E a moça saiu, eu ouvia a Dona Rosa lá remexendo nas coisas da cozinha e derramando do bule o chá para a xícara. Enquanto isso fiquei pensando no que o Mário poderia ter feito. Ele parece um cara tranqüilo, mas você não sabe o que ele fez, nem eu. Que que será que aconteceu, pra Dona Rosa ficar desse jeito? Não sei, não sei, só sei de uma coisa: Não confio nesse Mário, não. Quanto à Vivi, será que ela fez alguma coisa, já que ela parece tão inocente? Pra mim, gente inocente é normal, mas INOCENTE DEMAIS tem alguma coisa na muamba. Ela tá nessa história, aposto. Mas a Dona Rosa está voltando.
“Já te falei do Neto? Ah é, eu falei foi do Mário. Mas o Neto também é outro que só faz besteira. A mulher dele, a Mariane, é literalmente um cão chupando manga, o Neto chupou a manga e deu o bagaço pros amigos. A “bagaceira” sai com os primos do Neto a troco de grana. Pois é isso. Além dela ser uma vendida, ainda temos o Edu, o Eduardo, aqui do lado – e apontou pra parede do lado esquerdo – que é comerciante. Secretamente ele contrabandeia folhas de coca da Colômbia, faz a cocaína por aqui, usando como fachada a Homus & Húmus, a empresa de jardinagem dele, com produtos masculinos. Você nem imagina o trabalho que eu tive pra descobrir isso. Tive que invadir a casa dele pra ter certeza. É, estou velha mas ainda consigo arrombar uma porta de carvalho e desligar o alarme antes de chamar a atenção de alguém.”
Pô, agora fiquei confuso. Nessa rua só tem cinco moradores, e quatro casas. O tal do Mário e a Vivi moram em uma, a da esquina da Rua Margarida com essa Rua Rosa. Essa aqui é a da frente, na Rua Rosa com a Margarida, também. A do lado esquerdo é a do Edu, que também fica em esquina, a esquina dessa Rua Rosa com a Rua das Hortênsias. E a de frente pro Edu é a do Neto. Ah, entendi, mas ainda quero saber o que que esses caras fizeram. Vou ver o que a moça me diz agora, mas a moça falou que ela era velha. Isso está me atormentando desde que eu vi a Dona Rosa. Quantos anos ela tem? Ela é muito bonita, e boa de papo também, mas – Raios! – quantos anos será que ela tem? Eu preciso saber, senão vou ficar louco, aí a velha vai ficar falando sozinha porque eu vou levantar e sair da casa, e é bem possível que eu me roa de remorso por deixar uma velha falando sozinha.
“Bom, já vou te falar do Mário. Te disse que ele joga nos cassinos, não disse? Pois bem, ele, viciado do jeito que é no , perdeu tudo, a casa, o carro, o cachorro, as ações, até a mulher – a ex-mulher, a anterior da Vivi. Porque essa mulher, a Dani, largou-o e ainda deu jeito de tomar o que sobrou dele – a herança da mãe – nos tribunais.”
“Assim, lá estava o Mário, sem nada, pedindo esmolas na rua, e a Vivi, boa como é, levou ele pra sua casa, bem aqui, na Rua Rosa. Antes da Vivi e antes das esmolas, com a Dani, o Mário morava em Copacabana. Esse homem – bobo não é – deu jeito de ir, com calma, pouco a pouco, tomando o que era da Vivi, com muita persuasão, até que chegou num ponto em que ela não tinha mais nada e ele tinha tudo o que era dela – e assim ele recuperou a casa, o carro, o cachorro – e ainda ganhou uma mulher de bônus (ainda mais bonita que a primeira, só para constar.”
“Mesmo depois tomar tudo o que era dela, o mostro não ficou satisfeito, ainda fez ela ficar ‘sob controle’: prendendo-a, Mário a mantém dentro de casa, não deixa ela sair, nem ligar pras autoridades, nem dar um telefonema. Para os amigos ela morreu. Ela só veio aqui um dia, por minha causa. Sempre que posso, vou lá e solto ela – já mencionei que eu sei arrombar casas sem disparar o alarme? – e daí vêm todas as nossa saídas juntas, embora eu já tenha dito a ela para fugir, e a medrosa não foge, tem medo do marido. Essa é a história do Neto e da Vivi.”
Mas que história complicada, poxa. Você entendeu? O cara perde tudo no jogo, depois vai mendigar, é recolhido por uma mulher, tira tudo dela e a mantém presa. O homem é um sociopata invicto. Ninguém que eu conheça é melhor que ele.
Pô, mas nessa vizinhança tem de tudo, Dona Rosa. Tem mais alguma coisa que eu possa saber?
“Ah, tem muitas, Fábio! Deixe-me relembrar as histórias.”
A velha (nem tão velha) fechou os olhos e ficou em silêncio. Depois de dois minutos eu não estava entendendo mais nada. Ela apagou? Morreu? Tomou um calmante forte demais? Que que aconteceu com a Dona Rosa?
Olhei em volta para observar o lugar. Gostei. As paredes eram de tijolos vermelhos, com telhado marrom. Tinha um monte de incensos distribuídos pela sala. O impressionante é que eu só notei que o sofá era vermelho agora.
Levantei e fui dar uma volta. Vi a cozinha, de cerâmica azul-escuro com bancada de inox, mesa de madeira e cadeiras desparelhadas, com louça também desordenada e de cores e estilos variados.
Vi também o banheiro, de cerâmica trabalhada em verde, com o vaso preto e a pia em amarelo. A casa toda era basicamente estes cômodos, excluindo os quartos, que eu não ousaria explorar sozinho.
Quando voltei à sala, Dona Rosa estava acordando de seu transe. Pelo visto, relembrara muitas coisas, pois já acordou falando o resto das histórias.
Não peguei tudo o que ela disse, mas o que eu lembro estou contando aqui:
“... Pois é isso, meu filho. Agora vou te contar do Neto. Ah, o Neto, o maldito Neto. Esse aí não é flor que se cheire não, amigo. Quando era pequeno, eu via ele roubar dinheiro da mãe, mas não falei nada, e não falei nada até hoje. Mas vou contar a história, gostando ou não.”
“ Com quinze anos, o diabo do Neto já era trombadinha e vândalo. Trombadinha não, já era mais, já ouvi falar que ele roubou uma senhora que saiu do teatro, depenou ela de todos os diamantes e saiu gargalhando. O desgraçado ainda pichava todos os muros que via pela frente, não deixava só um ‘liso’.”
“Pior ficou quando conheceu Mariane. Numa festa escolar, na roda de álcool e drogas, com dezesseis ele a conheceu. É, ela tinha quantos mesmo? Uns 14? Sei lá, mas o que eu sei é que já tinham rumores. Naquela época já diziam que ela era uma vendida, que qualquer um com cinquentão no bolso tinha ela por duas horas.”
“Bom, no final ele ficou com ela – por duas horas, diga-se de passagem – e aí os dois ferraram no namoro. Namoro não. Vício compartilhado, porque já diziam os amigos deles que os dois aspiravam mais que aspirador de pó. Pois é, o negócio estava brabo daquele jeito.”
“Pior de tudo foi que quando o Neto ficou ‘de maior’, como diz ele. Largou a Mariane – não que isso tenha sido algo ruim – e saiu bebendo a céu aberto, fumando todo tipo de cigarro, inclusive depois que conheceu o Edu, que arrumava também maconha, e garantia uns ‘descontinhos pros amigos’.”
“Mas no final todo canalha tem sua lição, né? Foi parar no pronto-socorro, de overdose, e quando a única a ir visitá-lo lá foi a Mariane, viu que estava no fundo do poço mesmo. Tentou largar as drogas, não conseguiu, e no final os dois continuaram juntos, mas ainda aspirando que nem aspirador de pó, sem parar nem um minuto. Por isso quase nunca saem. Se você olhar a janela, muito provavelmente vai ver ambos no tapete da sala, agachados em frente à mesinha, com canudos no nariz e um pozinho branco aos montes em papelotes. Se bobear, eles não comem, cheiram.”
“Mas enfim, o que eu odeio com todas as minhas células desse velho corpo, são vendidas. E a Mariane devia ser coroada Rainha das Vendidas. Dá pra qualquer um, em qualquer hora, desde que lhe deem um daqueles papelotes. É, não é mole não. Aquele canalha do Neto ainda deixa, passa pros amigos e primos, porque todo mundo perto do Neto tem a ver com o tráfico, já te falei isso? E aí, todo mundo que fica com a Mariane dá alguns daqueles papelotes. É como um comércio de trocas. ‘Mariane por um papelote’.”
“Agora só falta o Edu, que é rapidinho. E como está entardecendo, vou só te falar rapidinho, porque detalhadamente não dá. O tempo acabou.”
“Dizem que ele foi um traficante importantíssimo na Colômbia. Me falaram que ele é brasileiro, mas antes dos seis meses foi pra lá. Se envolveu com as drogas antes dos quinze, mas nunca usava, só comprava e vendia.”
“Quando a polícia descobriu seu negócio, teve que fugir do país, e agora não pode nem pensar em voltar pra Colômbia, que eles acabam com ele.”
“Assim que ele chegou aqui, iniciou uma pequena empresa, depois de tirar falsos documentos, é claro. Mas enfim, fundou a Homus & Húmus, que como já disse, é fachada para a produção e venda de cocaína. Dizem que também faz lavagem, mas nunca nada foi provado.”
E, Dona Rosa, você não tem medo, não? Assim, com uma vendida bem próxima, um sociopata, um traficante, um viciado, uma escrava por perto, tu não tem medo não? Além do mais, uma senhora como você – quantos anos ela tem?! – não pode ficar desprotegida, não é?
“Bom, meu filho, digamos que eu estou protegida, e que mesmo se eu morrer, a polícia VAI pegar quem me matou. Por hoje é só. Agora, está na hora do adeus, não acha?”
Sem esperar segunda ordem, me levantei e me direcionei à porta, abri, e tive a surpresa de ver que estava um solão sem nuvens, sem congestionamento, sem nada.
Ante à essa nova imagem, prestes a cruzar a porta e já com um pé fora da soleira, tomei coragem, virei e perguntei à Dona Rosa:
-Moça, quantos anos você tem, mesmo?
-Ah, querido, isso não se pergunta a uma dama.
Ela levantou, e calmamente fechou a porta.
Resignei-me com essa “resposta lacônica”, virei-me e saí a passos largos pela rua cheia de musgo.
João Lucas Fernandes de Sá
sábado, 5 de março de 2011
Ilusão
quinta-feira, 3 de março de 2011
Barco
quarta-feira, 2 de março de 2011
Viagem Natural
Selva de Concreto
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Otário
No horário errado
Não sou oportunista
Sou mesmo um otário.
Não sei onde nem quando
Nem me orientar
Nesse mundo de estranhos
De que serve se informar?
Hoje eu sei
Me enganei
O que houve não era verdade
Procurava a
Ilusão
Procurava
A decepção.
Agora eu já estou livre
Leve, solto, pronto pra histórias
Não se ofenda, por favor
Só não ligo pras suas verdades.
Sim, eu sei
Eu sou um otário
Falando mentiras
Em meio a verdades
É, eu sei
Não sou oportunista
Mas que tal
Pelo menos uma vez
Cuidar da sua vida?
Por favor, vá embora
Já não quero mais olhar pra você
Com esse sorrisinho falso
E os olhos cínicos
Não sei por quê.
Por quê?
Agora o tempo passa - não, ele voa -
Mas eu continuo numa boa
O sofrimento me fez crescer
Doze anos aguentando
Não é pra qualquer um.
Quando a tristeza vem me abater
Eu fecho os olhos e começo a chorar
Não, não tenho embaraço
Meu passado é uma mentira
Meu futuro é uma vergonha.
João Lucas Fernandes de Sá
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Animais
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Pensamentos
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Sem Autor, Não Há Trabalho
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Homenagem à Minha Mãe: 17/02/2011, aniversário.
Nasci chorando,
Acordei-a no meio da noite
Para dar à luz.
Causei-a as maiores dores
E as maiores lamentações
Ainda assim, ela sorriu
Ao ver-me pela primeira vez.
Vermelho estava,
Colorido pelo sangue de seu ventre,
E quando em seus braços repousei,
Reconheci minha mãe,
Aquele rosto que sorria.
E eu chorava.
Muito. Não sei se querendo leite
Ou se eram lágrimas de felicidade.
Mas o leite ela me deu.
Também me forneceu
Moradia, amor e proteção.
E junto dela veio uma amiga
Que guardo no coração.
Enquanto crescia, silenciava
Mas dependente ainda sou.
Gosto de ter de confiar minha vida
À minha mãe.
Mesmo que chore
Mesmo que ria
Não importa o que faças
Estarei ao teu lado
Todo dia.
Não sabes minha alegria
Quando te faço feliz.
Sei que nos desentendemos
E muitas vezes erramos
Mas no final, todos sabemos:
Mãe, eu te amo!
João Lucas Fernandes de Sá
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Diferença
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Acordo Ortográfico
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Meditações Sobre a Vida
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Vergonha num Pedido
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Lágrimas
Pesadelo
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Incoerência
Nightmare
Maiúscula ou Minúscula: mito ou Mito?
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Interior Infinito
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
História de um Homem
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Amor e Guerra
Designam o prazer e a ruína dos homens.
Em ambos tudo é possível
E cada tentativa é válida
No amor e na guerra
Sentimentos são mútuos
Ódio e paixão
Emoções próximas.
Sendo que, assim como no fogo e na pólvora
E nos corpos humanos
Ambos consomem-se
Rapidamente
Num beijo desvairecedor.
E o fogo e o gelo
Opostos completos
Vivendo conjuntamente
Em harmonia.
E ambos encaixam-se
Como peças de quebra-cabeça
Formando, como na música
Um todo avassalador.
Espero que algum dia possa
Compreender
Mesmo que superficialmente
Essa coisa chamada amor.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Universo Desconhecido
Emoções
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Quando Entro em Casa
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Cotidiano Adolescente
Volta às Aulas
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Sorria
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Dinheiro
domingo, 30 de janeiro de 2011
Anjo
Penso
Que penso errado
Na hora que não se deve
Pensar.
E penso
Que penso tudo
Tento de tudo
Pra parar de pensar.
Penso que tem uma mosca
Zumbido um zumbido
Enjoativo
Que tá enjoando meus ouvidos.
E penso que pode fazer
O que quiser
Penso que é permitido
Tudo.
Penso que pensar cansa demais
Penso que pensar é bom também
Penso em mim e em você
Penso que estou preso
Num pensamento infinito.
E penso que esta escrita
Está cansando
Penso que agora
Está acabando.
Penso que dar tchau seria bom
Mas aí penso que mesmo pensar
Não é uma coisa boa
E penso que uma saída francesa seria melhor
Sem aviso, sem sofrimento
Sem pensamento.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Fracassado
O que eu consigo fazer
Tudo o que tento
Fracasso
Não sei por quê.
Eu sei, eu sei
Eu sou um otário
Não me dou bem
Não faço nada de errado.
E quando eu posso
Fazer algo de bom
Eu fracasso e
Fracasso de novo.
Me reconheça
Sou um fracassado
Sempre xingado
Sempre errado.
Agora não sei
O que posso fazer
Pra melhorar
Melhorar e crescer.
E como disse Humberto Gessinger
"Muito prazer
Meu nome é otário
Vim de outros tempos
Mas sempre no horário."
Eu tento e tento e
Tento de novo
Mas não sou normal
Sou anormal
Eu sei.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Sou teu
Não ouvesse aquela chama
Que me encanta
Sem poder me encantar.
Talvez assim tua boca
Não fosse irresistível
Um chamado ao qual
Não posso negar.
Então, se teu corpo
Não fosse um dos Campos Elísios
Ou talvez
Se tua rosa não fosse tão atraente
Proposta indecente
Separar-me de você.
Por favor guarde segredo
Que algum dia eu ousei pensar
Em fugir, em procurar
Um lugar para me esconder.
Não sei o que fazer
Sou impuro
Tenho pensamentos
Desumanos
Ouso imaginar
Minha vida sem você.
Por favor, perdoe-me
Não posso ser o impossível
Não posso ser um fugitivo
Só posso ser
O que tu quiseres.