segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ócio

Vontade de nada
Corpos preguiçosos
Mentes lentas
Pensamentos à distância que se enroscam
No prazer do sono e da sonolência.

Intenção desfeita
Lógica abarricada
Pouco ou nenhum compromisso.

Saudade 
Do ócio.

Numa bruma de peso
Sem intenção, sem razão
Preguiça de lagarto,
Preguiça de humano.

Preguiça da civilização.

Distância do ensino
Ensino à distância.
Amores e felicidades inexistentes
Só calmaria.

Preparo para o cansaço físico
Que será o nascer de cada dia.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Posso Ser

Sei que não posso ser
O que você procura
Mas em meus sonhos mais fundos me torno
Sua luz na noite mais escura.

Lá posso ser seu ar
Seu mar, sua lua, suas estrelas
Lá posso me tornar
A pessoa que mais desejas.

Eu sei que cá estou
Longe de ti
Mas posso sonhar enquanto vivo
Em ti.

Às vezes sonho, inquieto
Com cores e sons e cheiros.
Às vezes penso
Que podia ser mais verdadeiro.

Às vezes quero ser seu ídolo
Seu mais fundo desejo
Mas realmente só sou mais
Um em desespero.

Querida, poderia ser o que quisesse
Mas não me eternece
Ser poeta.

Faço de tudo pra chegar a ti
E vivo a teu lado contanto que viva em mim
Se não souber meu coração
Aí está: é teu.

Garota, às vezes penso que não me conhece
Olha pra mim e não me reconhece
Conversa comigo e não percebe
Que as batidas do meu coração gritam seu nome.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Janela

Enquanto acordo, os raios velhos passam pela janela aberta, esquentando e ressecando minha já tão seca garganta.
As luzes dançam grãos de poeira, num vórtex desenfreado, tão incompreensível quanto o fantasma daquela janela, meio-aberta, meio-fechada, desconhecida em sua pura filosofia.
Eu não sei se o que me incomodava era a janela ou a luz. Luz demais. O velho Sol me acordava com rajadas cada dia mais vorazes, engolindo-me em seu calor, a despeito do meu óbvio cansaço e velhice.
E a janela ventava horas, dias, semanas. Eu, já desistente, rendo à tentação de mudar. Mudar tudo. Trocar de janela não bastaria. Eu ainda lembraria da tristeza da janela anterior e do ócio que me impedia de fechá-la.
Através dela, uma rua malvista, morta, decadente.
Nada pior que o desespero da tentação. A preguiça acalentava meu corpo para que não levantasse, para que ficasse quieto, deitado, e dormisse.
Mas a janela, a rua e o Sol me perturbavam demais. Estava com raiva da Velha Estrela. Acostumei-me com sua presença desde meus tempos pueris, e hoje, quando o demônio da velhice bate à porta, o Sol presente castiga meu velho corpo, com a luz ressecando-me e o calor sufocando-me.
Decididamente, se cedesse ao ócio dormiria, e provavelmente não acordaria. Por isso - e essa foi a decisão mais dura que já tomei -, levantei minha carcaça humana, estalando minhas juntas, e caminhei, lentamente, à janela.
E lá eternizei sua complexa filosofia, fechando-a.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sociedade

Como são lindos os olhos burgueses
Que olham para o futuro, em depressão.
Coitados dos rostos vazios dos ricos
Que olham pro nada, sem expressão.

Que se preocupam demais com as coisas.
Que não sorriem.
Que não vivem.

Como são lindos os olhos burgueses!

Pintados, lacrados, importados
Dos países siliconados.

Como são lindas as lentes multicores
Que fazem do pobre mais pobre
   - Mão-de-obra -
E do humano menos humano.

E ainda assim, os olhos vazios dos burgueses,
Têm o poder, a Câmara
E a opressão.

Como são belos os olhos burgueses!

Perfeitos, industrializados, dominados
Pela exaustão.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Doce-Amargo

Espera.
Excitação.
Medo.
Saudade.
Nostalgia.
Espera.
Intriga.
Excitação.
Raiva.
Tristeza.
Alegria.
Um final doce-amargo.
O final da história,
O início da lenda.
Sentimentos à mercê dum estopim
Que está próximo.
Que acabará é certeza,
Mas a saudade sempre voltará.
Como ela disse,
É um simples final.
Um final doce-amargo.

Sistema

Me preocupo demais.
 E às vezes acho que sou relaxado.
Mas a cidade é muito presa.
Não há verde.
O azul está acabando.

E ainda assim, o sistema nos prende.
Obriga-nos ao que ele pretende.

Cadê meu mar?
Meus ventos?
Minha corrida de menino,
Minha vida sem intento?

Minha ingenuidade, meu amor sem-razão
Sem-cidade, sem-estado, sem-pressão.

Cadê meus sonhos?
Meu pé-de-vento?

Sumiu. Pra onde foi?
Não sei. Que ele quer?
Como vou saber?

Oras, sabendo,
Feio-papão.

Bicho que pega, prende, mata.
Não gosto de você,
Sistema.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sociedade

Se pergunto da vida, tem prazo.
Se nem pergunto, sou preguiçoso.
Se quero saber dos meus amigos, sou 'largadão'.
Se não saio, sou bicho-do-mato.

Se converso, dou bobeira.
Se sou calado, antissocial.
Se procuro alguém, sou incompleto.
Se gosto de alguém, sou irracional.

Se critico, sou pedante.
Se não critico, sou 'sem-sal'.
Se gosto, não tenho gosto
Mas se não tenho gosto, como gostei, afinal?!

Se amo sou desalmado.
Se não amasse, iludido.
Se gosto, 'galinha'.
Se não gosto não sou querido.

Se vivo ao máximo, doido.
Se não, retroativo.
Se gosto de todos sou coitado
Se sou platônico, menino.

Se corro atrás do destino sou desesperado.
Se deixo ir com a maré, sou despreocupado.
Se digo que amo, é menitra.
Se digo que odeio, é verdade.

Se afirmo que foi sarcasmo, discordam.
E talvez até saibam melhor minhas expressões
Do que eu mesmo.

Se sou sucesso, 'me acho'
Se não, 'sou apagado'.
Se odeio a sociedade, sou revoltado.
Se não, sou mauricinho.

Críticas diretas e incessantes.
Sociedade que pega e mata.
Pressões de todos os lados.
Trabalhos.
Raiva.
Vida.

domingo, 4 de setembro de 2011

Seria Assim

Não seria do jeito que eles querem que sejam
E muito menos do jeito que a sociedade quer
Seria só o nosso jeito, nossa vida
Nosso mal - me - quer.

Poderia ser do seu jeito
Que aos puquinhos cederia ao meu
Mas nosso espaço seria só nosso
Nem meu, nem seu.

Nossa casa não seria apenas uma casa
Seria um canto, o 'nosso' lugar
Seria onde faríamos o que quiséssemos
E conquistaríamos o título de 'lar'.

Faríamos assim: Não cederíamos às pressões
Nem dos outros, nem minhas ou tuas
Não seria paixão, nem envolveria obrigações
Seríamos só nós, no nosso lugar, nossas luas.

Todo dia acordaríamos quando quiséssemos
E viveríamos do nosso jeito.
Eu acordaria antes de você
E lhe traria café na cama.

Você sorriria
E eu sorriria também
Eu pensaria
Que outro sorriso como o teu, ninguém tem.

Eu saberia, lá no fundo,
Que nada passaria as mãos do tempo
Que algum dia você me deixaria
E sim, eu choraria.

Também temos sentimentos
Também temos medo do tempo.
Mas o que eu mais queria era um lugar
Livre de medo.

Um lugar livre, onde você sorriria.
Não haveria choro, e faríamos o que quiséssemos.
Você escolheria algo
E eu concordaria.

Para lhe fazer sorrir.

À noite, você teria um medo infantil do escuro
Mas eu estaria lá.
Onde mais?
Ao teu lado, e teus medos se dissipariam.

E os meus também.
E de manhã, quando acordasse
Eu pensaria
Que sorriso igual ao teu, niguém tem.

Eu viveria feliz
Contanto que você estivesse feliz
E nós estaríamos longe de tudo
Longe da sociedade
Longe das humilhações.

Eu, acima de tudo, riria com você
E seria eu mesmo.
Gostaria de estar contigo
E a faria feliz.

E é assim que as coisas deveriam ser.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Compacto

Por que nada é simples,
Compacto?
Por que a síntese do mundo
Não se baseia no simples?

Queria um mundo completo
Longe da corrupção,
Longe da burguesia,
Longe do contato.

Por que o mundo não é compacto?

Simples, pequeno, sem tato.
Sem vácuo,
Também.
Sem vazio, sem tristeza,
Sem amor, sem idade.

O mundo seria permanente, sólido.
Sem nada.

Só o simples, o pequenino.
O compacto.
Assim seria meu mundo perfeito
E assim, me contentaria com o simples.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Penso

Existe uma linha tênue
Que separa a desgraça
Da virtude.

E eu penso que ela é tênue demais
Para a maioria das pessoas.

Que como se percebe a diferença?
Vivendo a diferença.
E temendo-a no coração.

De uma ponta a outra,
O preconceito não tem fim.

E agora, que o fim aproxima-se
Me pedem por respostas.
Ora, bastardos!

Me excluem por meus defeitos
Depois choram minhas qualidades?
Isso é simples preconceito.
Que fazem senão difamar-me?

Vivenciam o prazer
Através do desprezo.
Ainda haverá vingança.
Porque existe ressentimento.

Toda ação
Temr reação.

E o fim
Está próximo.

Voces verão.

domingo, 28 de agosto de 2011

Beco de Mundo

Sozinho.
No escuro.
No frio.
E nada muda.
Nada sai do lugar.

Sensações
De mundo parado.
De nada.
De nada mudar.

Coitado do mundo.
Coitado.
Não vai mais girar.

O Sol já não nasce mais
É sempre a mesma coisa
Nunca mudar.

O mundo já vai pra dois caminhos
Ou morre sozinho
Ou começa a chorar.

Coitados dos inúteis humanos
Que tentam, profanos,
O mundo mudar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Impossibilidade

Eu sei que não posso pagar
Um futuro para nós dois
Mas, por favor, me deixe tentar
Alcançar o futuro depois.

Com tantas terras, tantos mares,
Tantos vários lugares
Apareceu para mim
E agora só preciso de ti.

E pequena, olhe, não para cima ou
Para baixo,
Mas a teu lado
Que lá estarei.

E por favor esteja presente
No futuro que construirei.

Eu sei que não posso pagar
Um futuro para nós dois
Mas, por favor, me deixe tentar
Alcançar o futuro depois.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Atualidade

Simplesmente o nada.
Insignificante e obliterante nada.
E essa é a verdadeira tortura.
Não é ignorância, não é raiva.
É o vazio.
E do vazio provém a dor.

Queria mesmo é ter nascido em melhores tempos,
Onde a definição duma pessoa não é a definição de uma marca.
Onde os sentimentos eram sentimentos
O coração era fraco
E o amor existia.
Onde um ser não faria
O que o sistema faz com todos nós.

Onde você olharia pra mim
Mesmo eu não pertencendo a nenhum padrão
Da sociedade.
Onde eu teria uma chance, um momento fora do padrão
E não seria suprimido.
Onde as pessoas costumavam ser legais, divertidas, carinhosas,
E a variedade fazia o mundo.
Não éramos clones.
Tínhamos mais personalidade, mais amor.

Menos cegueira.

Eu e você costumávamos ser eu e você
Eles eram eles
E nós éramos todos.
Hoje, agora, a sociedade nos oprime
O sistema nos quebra.
E eu choro todas as noites.
Sem ninguém perceber.

Pouco a pouco, vamos nos destruindo
De dentro para fora.
A própria sociedade cuida disso.
E que bom trabalho ela faz!
Garante a opressão
O choro
A repressão.
E o que ganha em troca?
Devoção.
Plena e insuportável devoção.

Parabéns, mídia.
Você, esculpindo corpos perfeitos,
Matou pessoas.
Fez a diversidade decair
A personalidade sumir.
Somos clones.
Obrigado por esse mundo inútil.
Obrigado pelo "progresso".

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tristeza

E quantas vezes eu chorei
Sem nem mesmo querer chorar.
Quantas vezes em ti pensei
Por nada mais querer pensar.

E quantas vezes mais chorarei
Pelo futuro que nunca virá.
E que futuro é esse, meu Deus,
Que cisma a tentar se escapar.

Quanto mais nessas coisas eu penso
Mais vontade me dá de chorar.
Mas aí eu escrevo o que quero
Que venha a acontecer.

Que ironia do destino
No mesmo dia, tão bom para mim,
Você vem a me menosprezar.

Pois bem, não posso lamuriar,
Afinal, não foi minha culpa.
E lágrimas não mudarão nada.
Coitado de ti, coração, mais uma marca,
Outra cicatriz.

E menos um sorriso, menos mais uma pessoa
Menos a razão de tua felicidade.
Grande insanidade, essa minha.

De pensar que algo adiantaria
Me mostrar e me prostrar diante de ti.
Me desculpe, pequena, mas não posso prometer nada
Se isso não significa nada para ti.
Obrigado, mais uma vez, pelas lágrimas que me proporcionara.
A dor de cair não será tão grande quanto a alegria de subir.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ícones

Nesses tempos perigosos
Onde a imagem degrine o real
E pessoas são pagas para mascarar a verdade
E conter o pensamento normal
A realidade, a mais terrível realidade
É que tudo que sabemos
Já não é nosso.

Somos todos cópias, tentativas de imitação.
E numa sociedade onde se prega
A perfeição física e um pensamento correto,
Fixo, não há possibilidade da evolução de pensamento.

Ah, que saudade da iconoclastia!
Que quebrava as imagens e ídolos,
Ainda que de forma violenta.
Há algo terrivelmente errado com essa sociedade
Que penaliza a liberdade.

Há algo errado com esse mundo capitalista
Com as pessoas, com o sistema.
Que saudade daqueles tempos,
Quando - pelo menos minha vó dizia -
O amor governava aqueles dias.

Quando o patriotismo era presente
A felicidade era presente
A hospitalidade existia.
E não era somente
O terrível mundo capitalista.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Coração Fraco

Manolo olhava demais pra Lúcia. E Lúcia, menina cativa, nem sabia o que fazer. Mas não é que deu em alguma coisa?
O cara, malandro como era, e já doidinho com ela, arranjou tempo, lugar e transporte. E a garota, caidinha, não resistiu e disse que era amor eterno, que ia ser pra sempre. Manolo, por fim, concordou com a moça. E ficaram juntos.
Por um tempo.
Um tempinho só.
Afinal, o Manolo era homem de uma, mas seu coração derretia fácil. Quando firmava um namoro, ficava naquilo, mas, se outra interessasse, acabava tudo por essa outra. E não é que foi o que aconteceu?
E o interessante é que as duas eram amigas do peito, nada separava uma da outra. A Mari, que via a felicidade da amiga, dava uns bons conselhos pro Manolo, e ele ia seguindo a vida com a Lúcia.
E foi aí que ele percebeu que ela já não dava mais pra ele.
Acabou caído pela Mari. E foi se insinuando, se insinuando, até que ela começou a olhar pra ele de um jeito diferente, também. Que fazer? O coração é fraco, como diz a própria.
E foi uma luta. Os dois recém-amantes faziam juras e mais juras, e olhavam-se nos olhos, ficavam, gostavam e ficavam de novo. Mas como contar pra Lúcia e acabar com a amizade?
Não teve jeito.
Foi o que Manolo decidiu. Ele foi até a Mari e falou pra ela que teriam de contar pra Lúcia de qualquer jeito. A Mari, agoniada, chorou, brigou, gritou. Mas cedeu. E foi conversar com a Lúcia.
Coitada.
Ela chorou. E gritou mais. E brigaram, brigaram demais. A amizade quase acabou. Pois é, o coração é mesmo fraco. Tudo por causa do Manolo.
Mas chegou num ponto que não teve outro jeito. Lúcia fungou, respirou, mas foi de cabeça erguida até os dois e deu a sua bênção. E eles estão lá, firmes e fortes, até hoje.
E pensando bem, o casal combina. Manolo e Mari. M&M.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Liberdade

Queria ao menos
Uma vez
Me sentir livre
E livre ser.

Mas quanto mais livre penso que sou
Mais preso ao mundo estou.
E coisas mundanas, de repente
Num lampejo, me vem à mente
Ignorando meus soluços,
Minhas reclamações.

Cada vez mais eu tento livrar-me,
E cada vez menos livre estou.
Qual é o conceito dos burgueses
Para liberdade?
É algo solto, sem idade,
Sem mundo e sem compromissos?
Não sei. Acho que não.
Se fosse, livre eu seria.
Mas livre não sou.

Que serei?

Se não sou liberdade,
Sou escravidão?
Maldita maldade
Dos ricos em ascensão.

Como são lindos os burgueses
Livres, belos, finos,
Escravos da sua própria riqueza.
Será esse o conceito de liberdade?

domingo, 10 de julho de 2011

O Que Se Passa

Rápido o tempo passa
E rápido ele discorre.
Anda como nada andou
E anda como fosse voo.

Fala que tudo passa
Mas na verdade nada se passou.
Antes que tudo acabe
Na verdade tudo já acabou.

E num pisco de cílios quebrados
A vida se esvai, num sonho apaixonado.
Leitos perfeitos esperam
Os áureos da morte.

Linhas finas e tortas da vida
Que fazem um universo de percepções.
Antes de tudo, contudo,
Acabam-se as emoções.

sábado, 9 de julho de 2011

Calmaria

O que foi feito não fará
De novo
Não será como as ondas no mar
Que batem, voltam e rebatem
Num ritmo infinito
Apaixonante, porém louco
Estilo do mar.

E nesse movimento
Que vai, vem e volta
Faz e refaz
De novo
Tudo o que foi um dia
Já que não volta
O que seria de nós
Sem o gostinho do mar?

A vontade de voltar
E refazer o que já fez
De regressar e repetir
De redescobrir
E de acabar.

Mas, como tudo,
Tudo acaba.
Um dia passa.
E não volta.
E depois, tudo fica calmo,
Límpido.
Como o mar.
Que escurece, amedronta,
Quebra, enfurece,
Mas depois, resolve por si mesmo,
Contrariando todas as previsões,
E chocando todos os corações.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

(In)Versos

Se em tempos de guerra quiseres Sol
Farei chuva.
Se quiseres, em tempos de amor, amor,
Farei guerra.
Se quiseres felicidade em tempos felizes,
Triste serei.
Se quiseres versos tristes,
Feliz estarei.
Se quiseres gritar em profundo,
Serei vácuo, e nada ouvirei.
Se quiseres sussurrar em meu ouvido,
Mascarado estarei.
Se quiseres emoção em conflito,
Serei impasse.
Se quiseres nada próximo ao abate,
Serei morte.
Se quiseres nada mais que um sorriso,
Serei lágrima.
E se quiseres lágrima,
Serei nada.
Se quiseres versos,
Sumirei.
Se quiseres provas,
Darei conclusões.
Se quiser conclusões,
Serei confusões.
Se quiser-me,
Serei poeta,
E poeta morrerei.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Mar

Espero que algum dia
Eu olhe pra trás
E não veja mais nada
Pois tudo o que há, na verdade é pouco
Sentimentos tolos
Sorrisos fatigados.

E um fio ao qual me agarro
Se chama Realidade
Num mar de desilusões.
E até que seja dita a verdade
Não largo da Realidade
Nem por mil emoções.

Tudo o que peço
É um riso sincero
De verdades não ditas.

Um sorriso branco, brilhante
Perfeito pra nós dois.

Mas nesse mundo de loucos
Um sorriso é pouco
Não dá pra lucrar.
Apreciar um sorriso é pra poucos
Uma coisa de louco
Não dá pra negar.

E no escuro eu vejo uma luz
Que me guia para fora do meu fio
Me desagarro e me deixo levar
Espero que esse não seja
O mar das Emoções
O mar da Felicidade
O mar das Desilusões
Dos Fracassos, da não-Realidade.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Lápis e Papel

Na mão do artista
Canetas e lápis
Numa dança
Dança, entrelaça, desdança
E dança outra vez;

E faz o cinza, faz o preto
Faz o marrom e o branco
Faz o teu carisma
Ficar no papel;

Lápis e papel
Na mão do artista
Viram luz,
Transcendência
Viram amor ou inocência
Viram eu e você;

E lápis risca
- borracha apaga.
Caneta colore
- o papel rasga.

E qual a beleza em ver um papel desenhado?
Nenhuma. A beleza
Está é na pessoa que o desenhou;
O papel
É só uma imitação,
É efêmero,
Não é verdade.
Porque aquilo que é verdade
É verdade sempre.

Xadrez

Vai. Joga.
Não. Vai você.
Não. Joga, rápido!
Vai logo!

Não vou. Vai você.
Eu também não vou.
Pois então ninguém vai.
Acho melhor.

Vai você!
Não.
Por favor.
Não.
Por favor, vai?
Não.
Que saco.

Pois sabe do que mais?
O quê?
Tchau.
Por quê?
Porque sim. Tchau!

Oras, isso tudo por causa de um joguinho de nada?
Se é assim, jogue você primeiro, oras.
Não.

Tchau.
Ah! Então, tchau!
Até nunca mais!
Vai embora.

- Um homem passa pela porta.
A porta bate.
Os dois choram.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Indústria

Aquele que teve a infeliz ideia
De marcar como sua
Um pedaço de terra
E nela instalar
Trabalhadores sem fim
Foi o mesmo que descobriu
Ao longo dos anos
Que o tempo e o cansaço nada eram
Senão pequenos obstáculos para a indústria.

E que mais pode ser
A indústria
Senão processos de dor
Tanto aos humanos
Quanto ao ambiente?
E por que, agora
Pessoas vão embora
Protestam, se rebelam
Contra o processo produtivo?

Oras, foram simplesmente
Algumas centenas de anos
De escravidão.
Nada mais.
Somente anos, décadas e séculos
De sofrimento.
E ainda assim, existem aqueles
Que defendem a tortura
E a exploração.
São os mesmos que governam
E que imperam
Preguiçosamente.

Do canto de seus quartos,
À beira de suas lareiras
Os representantes do capitalismo lucram,
Em silêncio.
Enquanto aqueles, justos, que trabalham,
São explorados e maltratados
E assolados pelo espírito do cansaço.

Tem alguma coisa errada neste cenário.

João Lucas Fernandes de Sá

terça-feira, 17 de maio de 2011

Vento

Sentado num tronco velho
Lendo linhas rimadas
De um idoso poeta.

Sentindo vento nos cabelos, cabelos em pé
Passando entremeios
Entre caminhos.

Tenho muitas possibilidades
Muitas desavenças
Com o destino.

Por que que a gente brigou
De novo?
Por que que esse vento é tão
Gostoso?

Sentado nesse tronco velho
Vendo linhas rimadas
Dum velho poeta.

Sentindo esse vento bom
Que vem lá do fim do céu
E cai de lá como mel
No povo daqui.

Natureza viva, não tá morta
Natureza boa de sentir
Sente esse vento bom, essa alegria
De ser e de vir.

Vem curtir esse vento
Quero te pedir;
Venha aqui.

João Lucas Fernandes de Sá

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Te Esperei

Andei mil milhas de solidão
Pisei terra batida, meu pé no chão
Ando solitário mas não sei por quê
Você foi embora e eu chorei sem querer.

Agora estou sozinho a te esperar
O sol está a pino, deu vontade de chorar
Quero gritar, mas ninguém vai me ouvir
Já que não posso gritar, melhor eu sorrir.

Tenho pendências, roupas penduradas
Amores sórdidos, felicidades roubadas
Sorrisos caídos, pessoas deslumbradas
Corações tortos, medidas tomadas.

Eu sei, o que fiz foi errado, é
Mas também sei,
Que meu coração é malvado, é
Já que meu cupido não faz o que digo
Vou sair e correr, procurar alguém
E ser o que tiver de ser;
Virar o que tiver de virar
E amar quem vier pra amar.

Tenho pendências, roupas penduradas
Amores sórdidos, felicidades roubadas
Sorrisos caídos, pessoas deslumbradas
Corações tortos, medidas tomadas.

Agora estou sozinho a te esperar
O sol está a pino, deu vontade de chorar
Quero gritar, mas ninguém vai me ouvir
Já que não posso gritar, melhor eu sorrir.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Céu

Posso estar aqui,
Ou a mil quilômetros
De distância
E ainda assim estarei aqui
Porque é o mesmo céu
E o mesmo mar.
É o mesmo azul.
São as mesmas luzes,
Os mesmos sorrisos,
De diferentes pessoas.

O céu corre
E discorre
Esse pleno azul
Ao longo do tempo e da distância.
Ele corre - voa -
E leva nuvens com ele
Dum lado à outro.
E gira. E se move, estático cobalto.
Carrega com ele estrelas
Que olho à noite.
Mexe as marés com a lua e mexe-nos, homens.
Interfere nas crenças e nos amores.
Marca tempos, muda locais
E permanece o mesmo, sempre o mesmo.
O mesmo azul, o mesmo céu.

E isso conforta-me.
Além do mais, mantém minha sanidade
E me distancia da loucura.
E quanto mais eu penso, eu concluo
Que o céu é perene
Já a terra, os homens...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Desorganização

Correria, desespero
Desorganização
Alegria, muito medo
Medo agora então.

Tem prazos demais para poucos anos
Tem poucos dias no meu calendário
Tem muitos tempos que requerem que vivamos
E tem muitos dias desumanos.

Existem festas demais e pouco trabalho
Muita diversão pra poucos otários
Escola de menos
Pra gente de mais
Ludicidade à vontade
Trabalho jamais.

Desorganização total
Anarquia geral
No meu mundo não há prazos
E no mundo tem demais
Anarquia total.

Existem muitos detalhes que chamam a atenção
E o quadro final é deixado de lado
Quando há desorganização.

São muitos prazos
Estou ficando maluco
Muitas datas, muitos horários
Poucos dias no meu calendário.

Amanhã

Amanhã é um outro dia
Um novo raiar da manhã
Amanhã é um novo caminho
Uma nova melodia
Um novo esquecimento dos caminhos da vida
Pra você e pra mim.

E a estrela d'alva
Corre no azul
Escorrega por nuvens de algodão
Tenta se pôr
Atrás das montanhas
Vive um mundo belo de amor e paixão.

Lança vida e luz, joga energia
Faz o mundo girar
E nessa reviravolta, nessa melodia
Me faz imaginar
Como seria meu amanhã sem você
Não teria luz, só escuridão.

O amanhã de ontem é hoje
Pra que fazer hoje
O que se deixa para o amanhã?

Corro pelo céu atrás da estrela
Corro no meu tempo querendo o amanhã
Desejo secretamente, intento quieto
Que o amanhã de ontem seja hoje.

O tempo passa, o hoje vai embora
O amanhã vem, já passou da hora
E não percebemos nossa felicidade
O amanhã já vem, ele não demora.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Momento

Me dê mais um momento juntos
Me dê essa alegria, essa certeza
Me dê mais uma hora com a Lua
Mais um dia, nem que seja um minuto.

Me dê mais um sorriso
Esse sorriso que ilumina o seu andar
Me dê mais um momento juntos
Mais um momento, porque eu quero te mostrar
Como pode ser bom esse ardor
Como pode ser bom essa felicidade
Como eu quero você junto comigo
Como eu quero nós dois.

Quando chuvisca lá fora
Você não quer entrar
Me dê esse prazer
Não me culpe por tentar
Te dei o convite
Você não aceitou
Não espere de mim mais,
Porque já passou.

O tempo corre, me desculpe
Não imagino o que posso fazer
Eu esqueci, você também tem sentimentos
Tem um coração que pode parar de bater.

E eu também sei que uma caneta
Fere mais que uma espada
- difâmias -
Então agora, por favor
Me dê mais um momento juntos.

João Lucas Fernandes de Sá

Festa

Venha para perto
E entre nessa festa
Festa dia e noite
Eu quero comemorar.

Viajando noite adentro
Entrando em matas do tempo
Fazendo o tempo
Desacelerar.

Sorrindo à luz da lua
Imaginando sob o luar
Vendo coisas boas
Porque eu estou feliz
Fique você também.

Vamos pra sacada lá de casa
Lá tem sol, tem amor
Tem tudo o que você precisar
Vamos sentar na sacada
Vamos deixar a nossa imaginação
Levar.

Vamos nos caminhos tortuosos das lembranças
Vamos nessa festa de felicidade
Vamos nessa alegria eterna
Vamos nesse amor, nessa ingenuidade.

Vamos ser felizes, vamos contagiar
Vamos lá pra casa pra comemorar
Eu quero saber
Se seu sorriso ainda é o mesmo.

João Lucas Fernandes de Sá

quinta-feira, 31 de março de 2011

Ele & Ela

Ela pensa em como ele está bonito hoje.

Ele pensa nas suas curvas.

Ela pensa em como eles poderiam ser felizes juntos.

Ele quer saber quando irão para o seu apartamento.

Ela gosta do charme dele.

Ele gosta do seu sorriso.

Ela quer viver ao seu lado.

Ele já está pensando em outra.

Ela gosta do jeito que ele passa os dedos nos cabelos.

Ele gosta do jeito como o decote dela é.

Ela gosta da sua maturidade.

Ele gosta da sua infantilidade.

- ou seria o contrário?

Ele a observa.

Ela desfruta.

Ele escuta.

Ela lembra.

Ela: é amor.

Ele: é ardor.

terça-feira, 15 de março de 2011

Bandeira Branca

Depois de guerra constante
Soldado hasteia bandeira branca
Cansado, sacode a poeira
Cansado ele levanta
Anda, soturno e relaxado
Para o campo adversário
Não vê o perigo escondido
Não vê bombas entrincheiradas.

E lembra da sua bandeira branca a sacudir com o vento
Vê, com olhos brilhantes que não mentem
As armas caírem, descontentes
Um estrondo metálico vagando pelo ar...

Lá se vai, passando por casas abandonadas
Portas abertas, escancaradas
Mundos perdidos, esquecidos
Num mar de luta sem fim.
Pessoas com olhos abertos
Assustadas com essa coragem recém-revelada
Que veio do âmago do ser.

Essa vontade de desistir
De não aguentar mais
De não poder mais nada fazer
Pela paz,
É inferiorizada
Por justa causa, causa dela
Guerras são finalizadas
E feito ela, diplomatas
Resolvem conflitos eternos.

Essa bandeira branca
Solução de tudo, resolve o mundo
Obstinada, resolvida a ceder.

E ela balança, quietude
Silêncio, eternidade
Símbolo de paz.


João Lucas Fernandes de Sá

domingo, 13 de março de 2011

Sonhar

Deito, fechando olhos
Apagando pensamentos
E pensando em dormir.

Viro, rolo de lado
Olho a parede
Divago
Profundamente.

Fecho olhos de novo
Concentro em expulsar pensamentos
Novamente pensando em dormir.

E durmo
Viajo inconscientemente
Tenho um sonho puro
Que domina mente
E me leva longe
Nas costas do ar.

Viajar
Por estas estradas longínquas
Correr por montanhas
Andar por baías
E chegar no mar.

Olhar essa espuma branca
Bater em pedra
E fazer a pedra
Virar areia branca
E fazer de novo, mais uma vez.

Sentar num muro
Encostar em árvore
Sonho profundo
Mas que vontade
De viver aqui.

Gosto de olhar o mar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Contato

Criança, criança bonita de se ver
Tem pé no chão
Criança bonita, bonita de ser
Tem coração
Tem uma bola no pé
Num campo de futebol.

Jogando passam-se as tardes, lentas
Enquanto longe ouvem-se adultos
Chamando nomes ao sabor do vento.

Chamando nomes
Nomes só
Ao sabor do vento
Vento,
vento,
Vento.

Contato com essa Terra nossa
Contato bonito de se ver
Dá sorrisos, vontade e alegria
De viver.

Criança joga, joga tranquila de pé no chão
Porque a mãe-Terra, sua protetora
Está olhando de cima, armadora
De precisão.

E passam as tardes, lentas ao sabor do vento
Ao calor do Sol, ao seu intento
E passam noites ao léu
Com o gosto de ar, de verão, ão,
Verão.

E chove, chove mãe-chuva
Chove que os filhos da Terra estão aqui
Vivendo a vida, vida querida
Abençoada por aqueles que já foram.

Contato com a mãe-Terra
Vivendo numa dança eterna
Ao sabor do vento e do verão.

terça-feira, 8 de março de 2011

Carteado

Numa mesa, quatro velhos se encontram
E, com sorrisos, sentam-se e ameaçam
Uns aos outros com olhares tenebrosos
- Que houve, será os nervos dos anos que passam?

Por que será, que nessa mesa
Há falsidade?
Esses velhos, coitados
Puras inverdades.

Um deles requisita um baralho
Ao balconista, com um olhar amedrontador
E o balconista, tremendo, sofredor
Entrega ao mandante o carteado.

O mesmo que fez o pedido
Senta-se e dá as cartas
E de cinco em cinco
Chega a vinte.

Cada velho, vassalo do jogo
Recebe as cartas, e olha em volta
- Não sabe o jogo, mistério -
Abaixa as cartas e faz suas apostas.

A cada vez, valores sobem
Aumentam exponencialmente
Até que um, e simples um
Ganha o jogo, finalmente.

Nesse ínterim
De diversão dos velhos
Que se há em volta deles?
Não sabem, pensam
Carteado, carteado, carteado
Não veem, fixam
Carteado, carteado, carteado.

domingo, 6 de março de 2011

Vizinhança Pertubada

Era aquela casa. Sim, eu sabia. A voz no telefone me contou, tudo certinho, nos mínimos detalhes. Casa amarela, telhado caindo aos pedaços, na Rua Rosa.

Bati. Três toquezinhos pausados. Era a senha.

Veio uma moça. Moça bonita que você nem imagina. Pele branca como nata, um corpo delicado e generoso, rosto suave e com uma ruguinha na testa. Achei bonita. Só não gostei do cabelo. Ruiva.

Entrei. Entrei satisfeito, porque lá fora estava um toró de alagar.

Fiquei calado enquanto a moça bonita ia na cozinha buscar um chá, quando ela voltou, me mandou sentar no sofá.

Peguei o chá. Chá quente é gostoso em dia de chuva forte. Melhor ainda quando tem uma moça bonita na sua frente. Pena que puxou um cigarro da bolsa e começou a fumar. Empesteou o ambiente.

A moça começou a falar. Eu não entendia nada, tava prestando atenção nas curvas dela, embora o falatório me desse a impressão que ela fosse muito mais velha do que aparentava, e eu não ia perguntar quantos anos ela tinha. Ah, não ia, porque me falaram que é falta de educação. Mas quando ela veio me perguntar quem era eu, respondi que era o Fábio, que ela não precisava se preocupar porque eu não mordia, que eu era só mais um nesse mundão de Deus. Que eu fora ali pra falar com ela, contar meu caso, e ela contar o dela. Só queria um pouco de prosa.

A moça disse que tudo bem, então começou a falar e então eu prestei atenção e as curvas dela não me interessavam mais. Eu queria as histórias da moça.

“Bom Fábio... é Fábio né?... Bom, Fábio, vou te contar a minha história da Rua Rosa, desse Bairro das Hortências, e dos negócios que de vez em quando aparecem por aqui. Você tinha me ligado né?... Como é que conseguiu meu número?”

Falei que o número dela era conhecido de todo mundo por lá, até de você, não era? O número mais simples por aí: 0000-0001. Falei também que se ela conta o número pra alguém, vem mais gente, sim, ah se vem! Vem gente até de fora do bairro pra ver a Dona... Dona o quê mesmo?

“Dona Rosa.”

Dona Rosa? Então era o mesmo nome da rua! Pois então, vem gente até de fora pra ver a Dona Rosa, e eu vim porque alguém disse pra mim, que a Dona Rosaentende muito bem as coisas, ela sabia até porque que dava chuva, e ela conhecia tudo o que se dava pelo bairro. Tinha lá seus jeitinhos de conseguir saber. Mas eu não sabia. Por isso que eu vim, não vim? Eu vim pra saber. Pois então, Dona Rosa, comece a soltar o que você sabe.

“Pois bem, você sabe o Mário? Não? Pois então, deixa eu falar. O Mário é um velhinho que mora na Rua Rosa desde sempre. Nunca sai, nunca faz nada, e é aposentado, ainda por cima. Ganha também com doações, as quais ele gasta em cassinos. O coitado ainda tem uma esposa, uma mulher com um quarto da idade dele. Enquanto ele tem oitenta e tantos, ela tem vinte e poucos. Ele é terrível. Pessoa vergonhosa, que mancha nossa história. Ela é muito boa. Um amor de pessoa, já veio aqui me perguntar se eu estava bem infinitas vezes, me ofereceu lanches, já fizemos piquenique. Já vou te contar o que o Mário fez com a coitadinha da Vivi. Ah, é, esqueci de contar, o nome dela é Viviane.”

“Mas antes vou te falar desse pessoal que mora na rua. Já conhece o Mário e a Vivi, mas espera só que eu vou buscar mais chá e você não sai daqui, hem? Espera que te conto o resto.”

E a moça saiu, eu ouvia a Dona Rosa lá remexendo nas coisas da cozinha e derramando do bule o chá para a xícara. Enquanto isso fiquei pensando no que o Mário poderia ter feito. Ele parece um cara tranqüilo, mas você não sabe o que ele fez, nem eu. Que que será que aconteceu, pra Dona Rosa ficar desse jeito? Não sei, não sei, só sei de uma coisa: Não confio nesse Mário, não. Quanto à Vivi, será que ela fez alguma coisa, já que ela parece tão inocente? Pra mim, gente inocente é normal, mas INOCENTE DEMAIS tem alguma coisa na muamba. Ela tá nessa história, aposto. Mas a Dona Rosa está voltando.

“Já te falei do Neto? Ah é, eu falei foi do Mário. Mas o Neto também é outro que só faz besteira. A mulher dele, a Mariane, é literalmente um cão chupando manga, o Neto chupou a manga e deu o bagaço pros amigos. A “bagaceira” sai com os primos do Neto a troco de grana. Pois é isso. Além dela ser uma vendida, ainda temos o Edu, o Eduardo, aqui do lado – e apontou pra parede do lado esquerdo – que é comerciante. Secretamente ele contrabandeia folhas de coca da Colômbia, faz a cocaína por aqui, usando como fachada a Homus & Húmus, a empresa de jardinagem dele, com produtos masculinos. Você nem imagina o trabalho que eu tive pra descobrir isso. Tive que invadir a casa dele pra ter certeza. É, estou velha mas ainda consigo arrombar uma porta de carvalho e desligar o alarme antes de chamar a atenção de alguém.”

Pô, agora fiquei confuso. Nessa rua só tem cinco moradores, e quatro casas. O tal do Mário e a Vivi moram em uma, a da esquina da Rua Margarida com essa Rua Rosa. Essa aqui é a da frente, na Rua Rosa com a Margarida, também. A do lado esquerdo é a do Edu, que também fica em esquina, a esquina dessa Rua Rosa com a Rua das Hortênsias. E a de frente pro Edu é a do Neto. Ah, entendi, mas ainda quero saber o que que esses caras fizeram. Vou ver o que a moça me diz agora, mas a moça falou que ela era velha. Isso está me atormentando desde que eu vi a Dona Rosa. Quantos anos ela tem? Ela é muito bonita, e boa de papo também, mas – Raios! – quantos anos será que ela tem? Eu preciso saber, senão vou ficar louco, aí a velha vai ficar falando sozinha porque eu vou levantar e sair da casa, e é bem possível que eu me roa de remorso por deixar uma velha falando sozinha.

“Bom, já vou te falar do Mário. Te disse que ele joga nos cassinos, não disse? Pois bem, ele, viciado do jeito que é no , perdeu tudo, a casa, o carro, o cachorro, as ações, até a mulher – a ex-mulher, a anterior da Vivi. Porque essa mulher, a Dani, largou-o e ainda deu jeito de tomar o que sobrou dele – a herança da mãe – nos tribunais.”

“Assim, lá estava o Mário, sem nada, pedindo esmolas na rua, e a Vivi, boa como é, levou ele pra sua casa, bem aqui, na Rua Rosa. Antes da Vivi e antes das esmolas, com a Dani, o Mário morava em Copacabana. Esse homem – bobo não é – deu jeito de ir, com calma, pouco a pouco, tomando o que era da Vivi, com muita persuasão, até que chegou num ponto em que ela não tinha mais nada e ele tinha tudo o que era dela – e assim ele recuperou a casa, o carro, o cachorro – e ainda ganhou uma mulher de bônus (ainda mais bonita que a primeira, só para constar.”

“Mesmo depois tomar tudo o que era dela, o mostro não ficou satisfeito, ainda fez ela ficar ‘sob controle’: prendendo-a, Mário a mantém dentro de casa, não deixa ela sair, nem ligar pras autoridades, nem dar um telefonema. Para os amigos ela morreu. Ela só veio aqui um dia, por minha causa. Sempre que posso, vou lá e solto ela – já mencionei que eu sei arrombar casas sem disparar o alarme? – e daí vêm todas as nossa saídas juntas, embora eu já tenha dito a ela para fugir, e a medrosa não foge, tem medo do marido. Essa é a história do Neto e da Vivi.”

Mas que história complicada, poxa. Você entendeu? O cara perde tudo no jogo, depois vai mendigar, é recolhido por uma mulher, tira tudo dela e a mantém presa. O homem é um sociopata invicto. Ninguém que eu conheça é melhor que ele.

Pô, mas nessa vizinhança tem de tudo, Dona Rosa. Tem mais alguma coisa que eu possa saber?

“Ah, tem muitas, Fábio! Deixe-me relembrar as histórias.”

A velha (nem tão velha) fechou os olhos e ficou em silêncio. Depois de dois minutos eu não estava entendendo mais nada. Ela apagou? Morreu? Tomou um calmante forte demais? Que que aconteceu com a Dona Rosa?

Olhei em volta para observar o lugar. Gostei. As paredes eram de tijolos vermelhos, com telhado marrom. Tinha um monte de incensos distribuídos pela sala. O impressionante é que eu só notei que o sofá era vermelho agora.

Levantei e fui dar uma volta. Vi a cozinha, de cerâmica azul-escuro com bancada de inox, mesa de madeira e cadeiras desparelhadas, com louça também desordenada e de cores e estilos variados.

Vi também o banheiro, de cerâmica trabalhada em verde, com o vaso preto e a pia em amarelo. A casa toda era basicamente estes cômodos, excluindo os quartos, que eu não ousaria explorar sozinho.

Quando voltei à sala, Dona Rosa estava acordando de seu transe. Pelo visto, relembrara muitas coisas, pois já acordou falando o resto das histórias.

Não peguei tudo o que ela disse, mas o que eu lembro estou contando aqui:

“... Pois é isso, meu filho. Agora vou te contar do Neto. Ah, o Neto, o maldito Neto. Esse aí não é flor que se cheire não, amigo. Quando era pequeno, eu via ele roubar dinheiro da mãe, mas não falei nada, e não falei nada até hoje. Mas vou contar a história, gostando ou não.”

“ Com quinze anos, o diabo do Neto já era trombadinha e vândalo. Trombadinha não, já era mais, já ouvi falar que ele roubou uma senhora que saiu do teatro, depenou ela de todos os diamantes e saiu gargalhando. O desgraçado ainda pichava todos os muros que via pela frente, não deixava só um ‘liso’.”

“Pior ficou quando conheceu Mariane. Numa festa escolar, na roda de álcool e drogas, com dezesseis ele a conheceu. É, ela tinha quantos mesmo? Uns 14? Sei lá, mas o que eu sei é que já tinham rumores. Naquela época já diziam que ela era uma vendida, que qualquer um com cinquentão no bolso tinha ela por duas horas.”

“Bom, no final ele ficou com ela – por duas horas, diga-se de passagem – e aí os dois ferraram no namoro. Namoro não. Vício compartilhado, porque já diziam os amigos deles que os dois aspiravam mais que aspirador de pó. Pois é, o negócio estava brabo daquele jeito.”

“Pior de tudo foi que quando o Neto ficou ‘de maior’, como diz ele. Largou a Mariane – não que isso tenha sido algo ruim – e saiu bebendo a céu aberto, fumando todo tipo de cigarro, inclusive depois que conheceu o Edu, que arrumava também maconha, e garantia uns ‘descontinhos pros amigos’.”

“Mas no final todo canalha tem sua lição, né? Foi parar no pronto-socorro, de overdose, e quando a única a ir visitá-lo lá foi a Mariane, viu que estava no fundo do poço mesmo. Tentou largar as drogas, não conseguiu, e no final os dois continuaram juntos, mas ainda aspirando que nem aspirador de pó, sem parar nem um minuto. Por isso quase nunca saem. Se você olhar a janela, muito provavelmente vai ver ambos no tapete da sala, agachados em frente à mesinha, com canudos no nariz e um pozinho branco aos montes em papelotes. Se bobear, eles não comem, cheiram.”

“Mas enfim, o que eu odeio com todas as minhas células desse velho corpo, são vendidas. E a Mariane devia ser coroada Rainha das Vendidas. Dá pra qualquer um, em qualquer hora, desde que lhe deem um daqueles papelotes. É, não é mole não. Aquele canalha do Neto ainda deixa, passa pros amigos e primos, porque todo mundo perto do Neto tem a ver com o tráfico, já te falei isso? E aí, todo mundo que fica com a Mariane dá alguns daqueles papelotes. É como um comércio de trocas. ‘Mariane por um papelote’.”

“Agora só falta o Edu, que é rapidinho. E como está entardecendo, vou só te falar rapidinho, porque detalhadamente não dá. O tempo acabou.”

“Dizem que ele foi um traficante importantíssimo na Colômbia. Me falaram que ele é brasileiro, mas antes dos seis meses foi pra lá. Se envolveu com as drogas antes dos quinze, mas nunca usava, só comprava e vendia.”

“Quando a polícia descobriu seu negócio, teve que fugir do país, e agora não pode nem pensar em voltar pra Colômbia, que eles acabam com ele.”

“Assim que ele chegou aqui, iniciou uma pequena empresa, depois de tirar falsos documentos, é claro. Mas enfim, fundou a Homus & Húmus, que como já disse, é fachada para a produção e venda de cocaína. Dizem que também faz lavagem, mas nunca nada foi provado.”

E, Dona Rosa, você não tem medo, não? Assim, com uma vendida bem próxima, um sociopata, um traficante, um viciado, uma escrava por perto, tu não tem medo não? Além do mais, uma senhora como você – quantos anos ela tem?! – não pode ficar desprotegida, não é?

“Bom, meu filho, digamos que eu estou protegida, e que mesmo se eu morrer, a polícia VAI pegar quem me matou. Por hoje é só. Agora, está na hora do adeus, não acha?”

Sem esperar segunda ordem, me levantei e me direcionei à porta, abri, e tive a surpresa de ver que estava um solão sem nuvens, sem congestionamento, sem nada.

Ante à essa nova imagem, prestes a cruzar a porta e já com um pé fora da soleira, tomei coragem, virei e perguntei à Dona Rosa:

-Moça, quantos anos você tem, mesmo?

-Ah, querido, isso não se pergunta a uma dama.

Ela levantou, e calmamente fechou a porta.

Resignei-me com essa “resposta lacônica”, virei-me e saí a passos largos pela rua cheia de musgo.


João Lucas Fernandes de Sá

sábado, 5 de março de 2011

Ilusão

Deito de olhos fechados
Viajo sem viajar
Não tenho passaporte
Nem paguei pra te amar.

Mas meus sonhos me levam
E relevam meus pensamentos
E subconscientemente eu reconheço
Já não sou eu, não sou meu
Sou seu.

Viagem fora-da-lei
Inconstitucional
Passo por cima de qualquer edito
Para ver-te
- valentia irracional.

Não pense que sou um apaixonado
Na verdade, não sou
Mas imagino como seria ser um poeta amado
E amar outro alguém.

Hoje meu amor seria maduro
E tocaria meu coração
Com o seu mel inexistente
E como inseto persistente
Estaria ali, a me observar.

Mas não há.
Pois então, concluo
Que no meu mel
Mel não é meu.
E que o meu amor
Faz-se sozinho
Imaginário.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Barco

Coração, barco balançante
Que corta, vagaroso
Um mar de emoções.
Que tem a última palavra
Que domina a mente.

O barco balançante é assim.

Sendo que ele anuvia
Os pensamentos
Do dia a dia
E bate forte
Faz a carga
Balançar.

E corta o mar
E corta o vento.

E leva os homens, marrentos
Leva mulheres, choronas
Leva passaportes de amor.

Corta o céu
E corta as estrelas
Alcança um mundo desumano
Ultrapassa tudo e vence todos
O barco, balançante.

Balançando e balançando
Inclinando-se e lutando
O barco cruza o tempo
O espaço, o ar.

O barco alcança tudo
O que for possível
Imaginar
Porque o barco balança, sim
Mas não cai.


João Lucas Fernandes de Sá

quarta-feira, 2 de março de 2011

Viagem Natural

Chovem estrelas de noite
Chovem raios de manhã
Chovem dias
De alegria
Todo dia.

Viaja em nuvem
Deitado no céu
Nadando na
Via Láctea.

Vejo a vida
Viajo em
Imaginação.

Olha, querida
Falo de minha viagem
Da nossa viagem
Falo das nossas estrelas
Dos nossos raios de sol.

Chove, chuva
Bate na porta
Sacode o vento
Tira o barro da bota
E sobe pro céu.
Me leva contigo?

Veremos o luar
Veremos o dia virar noite
E a noite virar
Dia.

Viajantes naturais.

João Lucas Fernandes de Sá

Selva de Concreto

Ouço sussurros velhos
De motores mortos
De motos velhas
De homens sórdidos.

Ouço a mentira
Nos barulhos estranhos
A falsidade
Nos olhos claros.

Vejo a maldade na selva de concreto.

Vejo a ilusão
No manto negro que se impõe,
Autoritário,
Na saída do Sol.

Assisto ao beijo
Da pólvora
Do fogo
Que consomem-se.

Mas não vejo
A humanidade.
Não compreendo
As investidas
Animais
De traição.

Selvageria
Na selva de concreto.

O pensamento
Corroído
Destruído
Pela maldade humana
Tornou-se uma simples esquiva
Um distanciamento
Dos seus semelhantes.

Maldade indiscutível
Que denigre
A imagem humana.

Maldade
Na selva
De concreto.

João Lucas Fernandes de Sá

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Otário

Eu sei que cheguei
No horário errado
Não sou oportunista
Sou mesmo um otário.

Não sei onde nem quando
Nem me orientar
Nesse mundo de estranhos
De que serve se informar?

Hoje eu sei
Me enganei
O que houve não era verdade
Procurava a
Ilusão
Procurava
A decepção.

Agora eu já estou livre
Leve, solto, pronto pra histórias
Não se ofenda, por favor
Só não ligo pras suas verdades.

Sim, eu sei
Eu sou um otário
Falando mentiras
Em meio a verdades
É, eu sei
Não sou oportunista
Mas que tal
Pelo menos uma vez
Cuidar da sua vida?

Por favor, vá embora
Já não quero mais olhar pra você
Com esse sorrisinho falso
E os olhos cínicos
Não sei por quê.
Por quê?

Agora o tempo passa - não, ele voa -
Mas eu continuo numa boa
O sofrimento me fez crescer
Doze anos aguentando
Não é pra qualquer um.

Quando a tristeza vem me abater
Eu fecho os olhos e começo a chorar
Não, não tenho embaraço
Meu passado é uma mentira
Meu futuro é uma vergonha.


João Lucas Fernandes de Sá

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Animais

O Carneiro pulava a cerca
E vivia vendo a Vaca.
Vaca mais Vaca que ela não há.
Só a Vaca Leiteira, que além de vaca, dá leite
É mais vaca que a Senhora Vaca.

O Carneiro gostava do Burro.
E o Burro era burro mesmo.
Seu nome? Burro também.
Ele e o Carneiro eram amigos
Amigos demais.

Só que o Burro era parente do Cavalo
Que enjoou-se de tantos animais
Foi dar adeus ao Carneiro
A Égua, ciumenta, foi evitar.
Chamou o quadrúpede a um canto
Dizendo que ia cochichar.
Na verdade, proposta indecente
Foi o que a Égua pôs-se a falar.
Mas o Cavalo cansou
E começou a brigar.

O Burro, preocupado, foi apartar.
Chamou o Carneiro e o Galo.
Galo melhor que esse não há.
Era galo briguento, galo forte
Galo bom de apartar.
Então ele chamou o Galo
Que de prontidão foi ajudar.

Mas a Galinha, amedrontada
Não deixou o Galo passar.
Bloqueou a porta
Do Galinheiro
E começou a gritar:
"Acuda, Porco
Maior confusão não há!
Meu Galo que ir embora
E eu não deixo!"
- Pôs-se a chorar.

E o porco, prestativo
Veio com uma solução inteligente:
Impedir que toda essa gente
Tentasse brigar.

E o Carneiro apartava
A Égua cochichava
O Galo brigava
O Cavalo também.
O Porco ajudava
A Vaca chorava
- Ao lado da Galinha.

E ao final de tudo
O Burro, desolado
Deu permissão ao Cavalo
Para viajar.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pensamentos

Por que, afinal de contas,
Tem um homem parado na porta?
Por que, afinal de contas,
Ele não vai embora?

Por que ele tem bigode?
Por que ele olha pra cima?
Por que tem os olhos caídos?
E por que está de terno?

Por que ele olhou pra minha mãe?
E por que ela olhou de volta?
Não sei, não sei,
São perguntas sem resposta.

Por que esse cara tem cabelo vermelho?
E por que ele é alto assim?
Por que eles agora vão embora?
Por que eles entraram num carro
E me deixaram sozinho?

Mamãe!, está aí?
Mamãe! Por favor!
Volta!
Volta agora, mãe!
Eu quero você!

Mas ela se fora
E não voltara.
Caíra de amores
E não se arrependera.
Abandonou sua prole
E nem olhou para trás
E a crueldade
Matou sua descendência.
No silêncio da noite,
O bebê chorava,
Berrava a plenos pulmões.
E, como se obedecendo a uma ordem
Tudo silenciou.

No outro dia
Os jornais noticiavam
A maldade
E forneciam os fatos.

E longe, num outro país
Uma mãe chorava
Enquanto olhava
Para o homem de bigode.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Sem Autor, Não Há Trabalho

Lamento muito por saber
Que agora não lerás meu trabalho.
Lamento tanto por aceitar
Que num futuro próximo
Jazerá, solitário
Meu poema.

E lamento dizer que,
Relutantemente, concordei
Em parar de escrever.

E consequentemente
Ninguém mais vai ler
Minhas histórias.

Agora, fervilho de ideias
Mas não as escrevo
Tenho obrigações.
E muito embora não simpatize com elas
Têm de ser feitas.

Lamento tanto não poder escrever.

Ano letivo já começou.
Espero que entendam.
Na verdade, nem tudo acabou
Mas meus poemas aqui
Jazerão solitários.

Afinal, sem escrita não há autor.
Sem autor, não há trabalho.
E sem trabalho, não há leitor.

Dói saber que meus poemas não serão lidos
Mas não posso lutar com as obrigações
- Como é duro a aceitação dessas! -
E lamento a verdade.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Homenagem à Minha Mãe: 17/02/2011, aniversário.

Uma História de Amor

Nasci chorando,
Acordei-a no meio da noite
Para dar à luz.


Causei-a as maiores dores
E as maiores lamentações
Ainda assim, ela sorriu
Ao ver-me pela primeira vez.


Vermelho estava,
Colorido pelo sangue de seu ventre,
E quando em seus braços repousei,
Reconheci minha mãe,
Aquele rosto que sorria.


E eu chorava.
Muito. Não sei se querendo leite
Ou se eram lágrimas de felicidade.
Mas o leite ela me deu.
Também me forneceu
Moradia, amor e proteção.
E junto dela veio uma amiga
Que guardo no coração.


Enquanto crescia, silenciava
Mas dependente ainda sou.
Gosto de ter de confiar minha vida
À minha mãe.


Mesmo que chore
Mesmo que ria
Não importa o que faças
Estarei ao teu lado
Todo dia.
Não sabes minha alegria
Quando te faço feliz.


Sei que nos desentendemos
E muitas vezes erramos
Mas no final, todos sabemos:
Mãe, eu te amo!


João Lucas Fernandes de Sá

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Diferença

Tem um cara na escola
Ele usa blusa preta
E cabelo preto nos olhos
Gosta de banda de rock
Usa anéis pesados.

Tem uma menina na escola
Ela curte hip-hop
Ela prefere um DJ
Ao Slipknot:
A banda que o cara gosta.

Também tem um menino
Ele é 'colorido'
Usa verde-vivo
E calça rosa
Ele curte Restart
Mas não ouve bossa-nova.

Ainda há uma criança
Mais sorridente que todos
E ela gosta de samba
Gosta de pagode
Ouve Exaltasamba
E foge de rock.

Todos esses estilos diferentes
Vivem todos juntos, vivem como gente
E a racionalidade é o legal nesse grupo
Ninguém julga nem impressiona
Só aceita o outro.

Sob uma boa influência de seus familiares
Foram criados certo
Como todos deviam ser.

Foram criados para aceitar o gosto de todos
Seja feio, seja bonito
Seja de qualquer jeito.

Agora, tudo é melhor
Se tentarmos cooperar
Por favor, nós lhe pedimos
Tolerância já!

Chega de preconceito
Chega de ilusão
Só aceite o outro como ele é
E ele é seu irmão.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Acordo Ortográfico

Aqueles antigos
Viajavam com 'vôos' alternados
Mas nós, novatos
Viajamos em 'voos' inexplicados.

Já nos restaurantes
O freguês foi sempre imperativo
Quando ele dizia 'Pára', tu paravas.
Agora ele diz 'Para':
-Para quem?
- diz o garçom.

Há aqueles
Os "Falas-Mansas"
Que acham que dominam a distância
Entre a velha e a nova escrita
Entre o alfabeto e as palavras.

E enquanto, nessas peripécias
As letras vão indo
O alfabeto vai
Diminuindo:
'Fora "K"!
'"Kaia" fora já!'

Nessa irmandade de sons
E sinais
Dos quais
As mais importantes
São as vogais,
Não há espaço para letra inútil.

'Fúteis'
Seria a palavra adequada
Para essas leis!
Eu não sei
Mais
O por quê
De ser assim
Tirar acento
É como tirar o pingo do "i"!
Tudo fica sem cabeça!

Essa língua é uma velha
Cansada de ficar no mesmo lugar:
Sempre que fica parada, estagnada
Muda-se totalmente.

E tolamente
Estudamos
Mesmo sabendo
Que com o tempo
As regras mudarão.

E nessa regra
De sempre dificultar as coisas
Pra quem já aprendeu,
A vida avança.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Meditações Sobre a Vida

Sinto o que sinto
Não sei explicar
Ondas que batem num tempo infinito
Espelho do céu, mar.

Pra mim a quantidade de estrelas do céu
Não são nem um pouco o que parecem
O vento as varre de dia
De noite a lua puxa-as de volta.

Os astros
Infinitos
Não são o que parecem ser
São somente ilusões
Num espaço infindável.

Por que
O céu é azul
Por que
A Terra é esférica
Milhões de perguntas
Mas nenhuma resposta
É como me sinto
Agora.

Mas não sei
Nem consigo especular
Por que esse mundo é feroz
Ele é atroz
Sim, enganoso.

Usa de artimanhas e define sua vida
Não descobre tudo, mas sabe seu passado
Guia suas escolhas sem ao menos você saber
E o que sabe não é suficiente
Pra sobreviver.

Meditações
Da realidade
Milhões de estrelas
De opções
Milhões de vidas
De inverdades
De enganações.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Vergonha num Pedido

Isso poderia ser mais difícil?
Ou então mais memorável?
Acho que não
Muito embora a verdade seja que eu não
Sei o que dizer.

O que fazer
Quando ela te pede algo
E não sabeis nem como começar
Ou como terminar?

A única coisa que tem na mente
Para formular sua prosa
É o sorriso dela,
Seu rosto, sua história.

Muito embora, a alegria que agora existe
Seja por presentear alguém com sua obra.

Quero ir para longe,
Para longe da vergonha.

Esse rubor que aflui
No meu corpo
Eu não sei o que é
Nem para que serve.

Só nos serve para nada
Ele é um não-fazer
Não é, como dizem
O prazer de viver.

Por que será
Que nesses tempos de hoje
Nessa geração
- Originária da Geração Coca-Cola -
Pode ser tão fútil a ponto de dizer
Que a vergonha
É um prazer?

Não sei
Só sei que o que fez
Não foi feito
O pedido
Não foi terminado
E o trabalho,
Não concluído.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Lágrimas

Lágrima que chora
só mais uma nesse poço aos meus pés.

Não enxergo mais nada
está tudo embaçado
vou na pia e abro a torrente de água
que lava a minha dor.

E vejo, na água corrente
meus sentimentos, dinâmicos
movimentando-se
circularmente.

E quando pelo encanamento
minha emoção
desce
eu já não sou mais aquele pinga-pinga
aquela confusão
de não saber discernir.

E quando aquela lágrima atinge o chão
mil oportunidades se abrirão.
Olhe para mim, você não sabe a verdade
você não sabe a minha decepção.

Mas eu não sei quando a lágrima cai
só sei quando ela já caiu
e quando percebo isso, a tristeza vai embora
a decepção sumiu.

Aquela lágrima que caiu
só mais uma no poço de água salgada
para mim é muito mais
é a lágrima que derramei por minha amada.

Já não sei quantos anos eu não choro
mas eu juro, não chorarei mais
tenho que ser forte o bastante
resistente o suficiente
para aguentar os altos e baixos da vida.

Mas as lágrimas ainda estão a cair
numa chuva torrencial
e eu não sei por que
quando elas caem
a tristeza vai embora.

Mesmo que, agora
estou melhor do que antes.
Cada lágrima que caiu
equivaleu a mil anos de experiência.

Pesadelo

Eu lembro de pedir colo
Também me lembro de chorar
Mas o terror inspirado pelos sonhos
Eu não posso interpretar.

Só relembro de imagens vagas
Em becos sombrios
Que me atormentam.

Quando durmo, me assusto
Tenho medo
Já que a minha cabeça
Não é propriamente minha
E sim
Dos meus sonhos.

Tenho medo
De quando eu lembro
Do meu pesadelo
Que até hoje paira sobre mim.

Era um homem de manta negra
Que atirava em si mesmo
Mas no momento do tiro
Eu acordava
Com uma sensação de que o homem
Era meu pai.

Também lembro de algumas imagens
Dispersas
Que agora me vêm a cabeça
E pairam com um terror inexplicável
É como uma nuvem negra
Que se aproxima
Até formar-se um véu preto
Em cima de minha cabeça
Tornar-me claustrofóbico
E desesperado.

E quando durmo, tenho medo
Pois não controlo
- Como se eu, acordado, controlasse -
Meus pensamentos.

Quando levanto,
Ofegante
Lembro de meu sonho
Paralisante
E hoje, examinei a verdade
E constatei
Que o homem de meus sonhos
Era meu pai.

Por quê?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Incoerência

Não sei o que se passa
Não sei o que ocorre
Incorência
Isso é.

Não sei teu nome
Nem a verdade
Mas sei a maldade
Por trás das palavras.

Não entendo
Como pude te machucar
Não entendo
Pois é simplesmente
Impossível.

Também não sei
Se a sua reação
Racional ou não
Tem a ver comigo.

Mas se tiver
Desculpas eu peço
- Embora não saiba por que pedi-las -
Porém exijo a verdade.

Me conte o que houve
Me conte o que aconteceu
Serei seu diário secreto
Mesmo não estando ao seu lado.

Serei seu anjo protetor
Seu amigo fiel
Por favor
Me coloque de novo
Rente ao teu egocentrismo.

Mas não sei
Por que essa incoerência
Essa indecência
Nas palavras.

Só entendo o que posso entender
E incoerência não é minha especialização
Mas sou especialista sim
Na sua reação.

De tanto vê-la
Gravei-a
E sei que fiz algo de errado
Peço desculpas, embora errôneas
Pelo simples - e terrível - fato
De tê-la machucado.

Nightmare

Everytime I close my eyes
I see your image in front of me
When I sleep I can't do it well
'Cause you are behind me.

And when I wake up
I wake up screaming
I remember
You aren't hearing
And I stop.

I had a nightmare
You went away
From me.

That's my biggest fear
You know I have a big phobia
And the trust of my conscient dreams
Can't be denied.

Now and forever
I can't say never
I have to try
Bring you back.

Hey!
I'm afraid
You go away
Too late
- You already did it.

Your face don't stop following me
It is present everytime a see your smile
That's the most effective torture
I imagine
I can see you
But can't touch
It's so horrible
But it's present
In my life.

I never go away
And I ain't made
For follow
And now I request
My freedom.

I think I'll fight
Forever,
I think I won't quit
This battle
'Cause I already won.

Maiúscula ou Minúscula: mito ou Mito?

O monstro Mito
Vive vivendo escondido
Por isso dizem que o Mito
É um mito monstro.

Mas na verdade
Mito
Não é mito
- Com minúscula -
Mito é Mito
Com maiúscula.

E Mito é um monstro bonzinho
Que ajuda a dar veredictos
Exemplo:
verdade ou Mito?
Questões do infinito.

Mas então
O Mito é mito?
Mas, mesmo que o Mito seja
Verdadeiramente mito
Esse Mito que estou falando
É verdadeiro.

Ele paira sobre nossas cabeças
Quando dizemos histórias sem franqueza.

Portanto, o Monstro Mito
É essencial
E o monstro mito
É mentiroso.

Aí reside a diferença
Entre a maiúscula
E a minúscula.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Interior Infinito

Sei que o que existe não abriga o que eu sinto
Porque é muito grande para compreender
E enquanto a minha sina no momento
É viver, viver sem você e sofrer
Melhor tentar
Tornar o sentimento menos mútuo
Para mim mesmo
Já que eu me divido em mil mundos
Para tentar
Compreender
Você.

Meu coração não é meu desejo
Ele vai explodir no meu peito
Se eu fizer
Qualquer movimento.

Você poderia aliviar minha dor
Você poderia avaliar o ardor
Que sinto
Mas não seria suficiente
Você teria de estar ciente
Do tanto que sofro
Por você.

Mas sei que não é sentimento nobre
Embora eu tenha que confessar
Não obstante, quero me desculpar
Sim, sou devidamente pobre
De sentimentos
Para alcançar
Tua magnificência.

Nem com mil anos de árduo trabalho
De desenvolvimento supervisionado
Não poderia escrever
- Já que não existem palavras para descrever -
O que você é para mim.
Mas vou tentar
Perante tu estou impotente
E embora saiba que irei fracassar
Tua majestade é imponente
O suficiente
Para me fazer tentar.

Teu olhar
Aquece-me por dentro
É meu sol particular
Me faz desistir do meu intento.

Não sabeis?
O que mais desejo é contar-lhe
Mas não posso amar-lhe
Como antes o fizera.

Desculpe-me, tu ainda serás o que era
Eu ainda estou impotente
Embora mais do que antes
E num sentido diferente.

Desculpe-me, mas esta é toda a verdade.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

História de um Homem

Tinha um sujeito
Lá na capital
Ele sentava na calçada
E calado, viajava.

Não sabia que tinha
Esse dom
Não sabia que não podia
Não saber
E não sabia
A maravilha
De saber nada.

Era tratado como um cachorro
Por todos
Alienado
Do mundo.

Até que um dia esse cara
Foi se rebelar
Seu silêncio, um pedido mudo
De socorro,
Foi aumentado milhares de vezes
Até ele gritar.
Não pode saber
O que fazer
Primeira vez que ele falava.

Foi na padaria
Da esquina
Comprar cigarro.

Foi na banca
Lá do lado
Comprar jornal.

Aquele cara tem futuro
Ele era mudo
Se libertou
Quer se informar
Não há mais nada que restou.

Ele é um novo homem
Ainda esfarrapado
Mas com sorriso no rosto
Beicinho meio de lado.

Com um cigarro de palha
Na boca
Soltava baforadas
Feito uma chaminé.

Esses são os homens de hoje
Os respeitáveis
Os protestantes,
Mas na verdade
Antes
Não eram nada a não ser
Homens calados.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Amor e Guerra

São ambos nomes para conflitos
Designam o prazer e a ruína dos homens.

Em ambos tudo é possível
E cada tentativa é válida
No amor e na guerra
Sentimentos são mútuos
Ódio e paixão
Emoções próximas.

Sendo que, assim como no fogo e na pólvora
E nos corpos humanos
Ambos consomem-se
Rapidamente
Num beijo desvairecedor.

E o fogo e o gelo
Opostos completos
Vivendo conjuntamente
Em harmonia.

E ambos encaixam-se
Como peças de quebra-cabeça
Formando, como na música
Um todo avassalador.

Espero que algum dia possa
Compreender
Mesmo que superficialmente
Essa coisa chamada amor.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Universo Desconhecido

Embora entendendo
Não compreendo
Essa agitação
Busca ao príncipe encantado.

Olhe, por favor, preste atenção
Veja que não sou só solidão.

Veja que vivo, veja que sou um ser
Veja que não vejo como você.

Pergunte a quem você gosta e reconhece
Não somos bons conselheiros.
Aliás, desse jeito
Não somos bons em nada.

Não aceitem o que nós seremos
Nem o presente, nem o passado.
Só nos aceitem do jeito que somos
Rotos e malpassados.

Porque vocês irão
Mesmo que num futuro logínquo
Consertar os nossos furos
Remendar nossas amarras
Nos manterão
E nos farão felizes.

Não me refiro a mim
Isso seria uma conclusão fatal
Digo no geral
Àqueles que procuram
Logicamente acham
E transformam-se, irremediavelmente
Num casal.

Emoções

Num grande mar de emoções
Onde jazem, perdidas, as verdades
Numa longínqua ilha da ilusão
Há esperança.

E enquanto espero
Que tudo faça sentido
Ouço o gotejar incessante
De tudo o que já vivi.

Vejo o passado, vejo o presente
Espero o futuro em busca de inspiração
Mas até então
Meus esforços foram inválidos
Perto do significado
De uma simples ação
No momento certo.

E sei que não sou sozinho nesse mundo
Nesse mar
Também sei
Que não as irei abandonar
Pois para mim
Abandonar uma emoção
É como saltar de um precipício
É sacrificar-se inutilmente
É sofrer
E morrer.

Nesse mesmo mar
A inconstância predomina
A negritude aparece, solene
Embora também divida espaço
Com a luz.
E as duas têm de viver em paz
Lutando inutilmente
Contra a organização a que foram impostas.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Quando Entro em Casa

Quando entro em casa
Sempre sopra uma brisa
A brisa da vontade
A brisa da verdade.

Essa mesma brisa
Me faz ter esperanças
E lembrar-me de você.

Mas na realidade
Tudo vem e tudo passa
Só falta você entender.

Nada disso aconteceu
Foi um universo paralelo
Escrito em linhas tortas
Que formavam frases perfeitas.

Quando o sol estava a pino
Admito
Minha alegria era grande.

Mas quando o Sol beijou a Terra
Escureceu
Esfriou
E lentamente,
Amanheceu
De novo.

Agora, o Sol antigo já deu sua volta
A brisa que soprava mudou de direção
Do oeste para o leste
Norte para o sul
Essa indecisão
Faz parte da minha história
Mas não de mim.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cotidiano Adolescente

Eu sei que agora não tenho mais controle
Minha voz está fraca
Movimentos acabados
Eu sei que no momento
Estou escangalhado
À espera de algo
Acontecer.

Chego em casa com muita fome
Como mais que todos
É uma vergonha.
Na hora de dormir a inquietação insiste
E não me abandona
Por mais que persista
E quando não posso descansar
Os olhos pesam
Irregularidade pura
Troco a noite pelo dia.

Inverti meus horários e não sei o que fazer
A desconcentração
É algo a temer.
Uma coisa importante que eu deixo escapar
Na prova me arrependo
Por devanear.

Na escola o cansaço me abate diariamente
Mantenho os olhos abertos
Com uma mensagem em mente.

Para a minha média não cair
Muito preparo
Melhor prevenir.

E mesmo quando não consigo evitar
Olho pro lado e começo a conversar
Logo me censuro pela falta de atenção
Inverto os papéis e presto atenção.
Agora não consigo
Nem tocar violão
O cansaço passivo
É uma confusão.
Não tenho intenção
De me desregularizar
Eu juro que tento evitar.

Volta às Aulas

Em função da volta as aulas, vocês notarão que minha frequência de postagens cairá, já que eu priorizarei os estudos. Isso se deve graças ao tempo que os deveres me tomam, e por isso não posso ficar online tanto quanto eu ficara antes.

Espero compreensão.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sorria

Sorria, verdadeira dama
Sorria que seu sorriso ilumina o céu
Sorria que agora eu lhe peço
E me estremeço
De pensar no seu sorriso.

Meu amigo
Já vistes uma dama com tanta perfeição
Em teus olhos antes ardiam
O fogo da emoção.

Não sabeis, minha amada
Eu te amo
Não há comparação
Não há nada pra te falar.

Para lhe dar uma leve noção
Do amor que eu sinto
Do fogo que queima
Do fogo que arde
Quando vejo teu sorriso.

Hoje, todo dia e sempre
Saberei uma verdade
Muito simples:
Eu te amo, verdadeiramente
Sem segredos
Sem maldades.

E saberás, quando olhares
Para trás, que o passado
Não importa mais
Que o futuro
Não pode ser descrito
Nas linhas tortas do nosso amor
E assim a história foi indo
Até que o fogo se apagou
A chama já não arde mais
Nosso futuro terminou.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dinheiro

Dinheiro é uma coisa doida
Dá vergonha de comentar
Num país é o real
Num outro é o dracma.

Não sei se já perceberam
A raiva que isso dá.
Vai converter dinheiro
Precisa de calculadora
Vai trocar moedas
Precisa duma tabela.

Pois deveria ser assim
O dólar tinha que ser pras Américas
O euro
Para a Europa.

O iuan chinês
Não poderia ser usado
Precisa de tanto zero assim
Para um valor tão desvalorizado?

Vai pra fora do país
E até desanima.
Um chinelo no Uruguai
Trezentos e tantos pesos
Se um chinelo do Brasil fosse trezentos reais
Bem possível que fosse de ouro.

Mas ainda há um lado bom
Mas só pra quem tem moeda valorizada
Vai à Argentina e vê, para sua surpresa
Que uma camisa oficial é cinquenta
Reais, e uma jaqueta de couro
É quarenta.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Anjo

Pela minha janela
Vejo nuvens de algodão
Sozinhas, solitárias
Exemplo de solidão.

Lá mora um anjo
- O meu anjo -
Que me protege todo dia
Me rege e guarda.
Daqui de casa
Eu vejo a auréola
Tão bela
Dá vontade de chorar.

Mas o meu anjo me espera
Ele espera-me
Para me encontrar.

Ele me protege todo dia
Me rege e guarda.

Joga minhas cartas
No jogo do destino.

E toda reviravolta
Eu confio a ele
Meu anjo
Que me protege todo dia
Me rege e guarda.

Quando chegar minha hora
Ele vai estar lá
Me esperando
Julgando.

Ele vê tudo
Minhas verdades, minhas mentiras
Minha humanidade
Minhas desventuras.

E ele sabe
Que eu sempre o amarei
O protegerei
Com minha vida.

Penso

Penso que penso muito
Que penso errado
Na hora que não se deve
Pensar.

E penso
Que penso tudo
Tento de tudo
Pra parar de pensar.

Penso que tem uma mosca
Zumbido um zumbido
Enjoativo
Que tá enjoando meus ouvidos.

E penso que pode fazer
O que quiser
Penso que é permitido
Tudo.

Penso que pensar cansa demais
Penso que pensar é bom também
Penso em mim e em você
Penso que estou preso
Num pensamento infinito.

E penso que esta escrita
Está cansando
Penso que agora
Está acabando.

Penso que dar tchau seria bom
Mas aí penso que mesmo pensar
Não é uma coisa boa
E penso que uma saída francesa seria melhor
Sem aviso, sem sofrimento
Sem pensamento.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Fracassado

Fico sem saber
O que eu consigo fazer
Tudo o que tento
Fracasso
Não sei por quê.

Eu sei, eu sei
Eu sou um otário
Não me dou bem
Não faço nada de errado.

E quando eu posso
Fazer algo de bom
Eu fracasso e
Fracasso de novo.

Me reconheça
Sou um fracassado
Sempre xingado
Sempre errado.

Agora não sei
O que posso fazer
Pra melhorar
Melhorar e crescer.

E como disse Humberto Gessinger
"Muito prazer
Meu nome é otário
Vim de outros tempos
Mas sempre no horário."

Eu tento e tento e
Tento de novo
Mas não sou normal
Sou anormal
Eu sei.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Sou teu

Se em teus olhos
Não ouvesse aquela chama
Que me encanta
Sem poder me encantar.

Talvez assim tua boca
Não fosse irresistível
Um chamado ao qual
Não posso negar.

Então, se teu corpo
Não fosse um dos Campos Elísios
Ou talvez
Se tua rosa não fosse tão atraente
Proposta indecente
Separar-me de você.

Por favor guarde segredo
Que algum dia eu ousei pensar
Em fugir, em procurar
Um lugar para me esconder.

Não sei o que fazer
Sou impuro
Tenho pensamentos
Desumanos
Ouso imaginar
Minha vida sem você.

Por favor, perdoe-me
Não posso ser o impossível
Não posso ser um fugitivo
Só posso ser
O que tu quiseres.