quinta-feira, 26 de abril de 2012

Águas

Caminhos tortuosos
Que se fazem despresentes
Que enganam, que retornam
As águas do presente
E que fazem e destroem
Todos sonhos incoerentes

As águas dos tempos
Correm de repente
Aceleram, descontrolam,
Coração irreverente

E o controle dessas águas
É de Deus, não da gente

Cantadas de um Físico

Belo dia que seja
Um físico anda na calçada
Seus três amigos viram
E veem uma moça sentada.

O físico aos outros olha
E dá sua primeira cartada:
"Menina linda que seja
Do meu charme não escapa".

"Linda menina, qual teu nome?"
"Meu nome, moço, é Mariela."
"Não me chame de moço, menina,
Pega mal para uma donzela."

"Não sabes meu nome ainda
Mas também, pudera
Não lhe disse-o até agora
Distraí-me com Mariela."

"Qual seu nome, então?"
"Mariela, me chamo João
E andando por estas bandas
Vi-a sentada no chão

Pois deixe-me logo dizer
De uma vez por todas
Troquei por você
Todas outras moças

Menina, coisa alguma
Me chamou mais atenção
Que você sozinha sentada
Com teu corpo violão

Com certeza vos-lhe digo
Sou feliz noutra dimensão
Pois nela estou contigo
Já aqui não estou não

Menina, sabia Newton bem
Da sua Lei da Atração
Nada atraiu-me tão bem
Quanto seu corpo violão

Olho teu rosto e viro meu corpo
Deito meu queixo noutra direção.
Vejo seus olhos, perco-me neles
Antes que veja estou no chão

Meu corpo energético tende
Sempre a ir embaixo
Mas a gravidade, insistente
Tornou-se somente um bicho fraco

Não é ela que mais me prende
A esta Terra que Deus nos deu
É você, linda Mariela
Desde que por ti meu coração ardeu."

sábado, 14 de abril de 2012

Escrever

Eu não escrevo
Mas eu tento.
Eu passo os dias ao relento
Tentando escrever.

Mas essa vida besta que me faz um mal danado
Rotina, rotina, rotina do Diabo
Coisa anticrista, coisa ociosa
Coisa bem malvista, coisa prestigiosa
Que me tira a vontade
Que me tira da verdade
Que me tira da maldade
Do escrever.

Êta coisa besta.
Preguiça; Rotina;
Saudade inteiriça.

Eu não escrevo.
Mas tô escrevendo.
Demorei um mês e meio
Mas voltei e tô fazendo.

Escrevendo.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vamos Fugir?


Ei, vamos fugir de onde estivermos
Correr em direção ao inconstante eterno
E fazer assim o nosso padrão.

Ei, vamos correr? Pra bem longe,
Onde a maldade se esconde
E o bem não é ilusão?

Vamos fugir?
Deu até vontade de descobrir
Se aquelas palavras ditas antes
Foram faladas de coração.

Foram elas de coração?

Vamos correr, então?

Viajar pra longe, ver-te com meus próprios olhos
Sentir-te com minhas nuas mãos?
Vamos correr, então?

Cansei desse padrão.
Cansei daqui.
Vamos fugir?

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Felicíssimos

É tão irritante pensar, às vezes, que, ao contrário do que manda a lógica dos nossos costumes, existem pessoas - até mesmo próximas a você -, que fazem melhores coisas que você mesmo faz, em todos os momentos do dia.
Pior que isso é Fernando. Ah, Fernando, que tu dirias se encontrasse Maria agora. Nem mesmo a felicidade que sentes por estar cercado de gentes felizes, rindo-se à toa, seria comparável a tristeza que sentiria.
Afinal, és apaixonado, e no âmago de si, sei que tens emoções em abundância. Sabemos todos que tu guardas essa paixão escondida, encoberta pelas obrigações sociais inerentes às suas respectivas posições de trabalho.
Vamos à história.
Fernando era um jornalista, ainda jovem, mas entristecido pelos anos de trabalho e obrigações. Andava com um porte característico dos pavões. Em todos os aspectos, no entanto, seu andar não correspondia à sua vida. Galanteador ele era, contudo não era nem bonito nem esperto o bastante para tornar-se chamativo para alguém. Sorte dele, nesse pequeno escritório que trabalhava, viste uma dama. Não 'uma'. O artigo aqui deve ser empregado com mais objetividade, mais ênfase. Ele viu 'a' dama. Para ele, 'a' dama. Única e universal, completa. 
Isabela. Sete letras. Um nome dado no batismo e levado em si por todos os dias. Apresentado aos amigos e familiares diariamente, mas a cada dia com um novo viço. A cada dia com um novo ardor, uma nova beleza.
Ela não era uma moça feia. Na verdade, era curvilínea, seus braços alvos faziam movimentos escolhidos. Seus ombros eram torneados, e seu rosto, que a princípio denotava uma marca de nascença, oras, este era magnanimamente esculpido. Era branca como neve, contudo não era fria. Era calorosa, gentil, feliz. E essa personalidade transcendente só glorificava mais ainda seus dotes corporais.
No escritório, um dia de domingo. Esse dia, em tese, seria reservado para Deus; ambos católicos de berço, obedeciam mal-e-mal os dogmas católicos. Por isso, trabalhavam também no dia santo. Fernando trajava um terno risca-de-giz. Isabela, um vestido mais à moda europeia, escuro, formal.
Ele, coitado, fazia hora extra, digitando, no computador da companhia, uma matéria programada para àquele dia, poucas horas à frente. Sua caneca de café estava jogada de lado no chão, esquecida.
Entra Isabela.
Fernando levanta a cabeça para ver quem entra - não era comum que invadissem o escritório àquelas horas, ainda era cedo! - e estaca.
- Olá!
Ele congela.
-Oláá!
-Er, oi, oi, prazer, Fernando.
-Prazer, Isabela. Sou nova no escritório, você não se importa se eu sentar aqui? - disse, puxando uma cadeira.
- Não, não, claro que não, o que é isso, o prazer é meu. Bem, o que faz?
- Eu sou repórter, costumo trabalhar com matérias de cultura. O que está escrevendo aí, Fernando?
- Ah, nada, só algumas coisinhas do Evento Cultural de Literatura Internacional.
- Ali. Tem uma data errada. O presidente promulgou essa lei, deixando abrir o Evento, em 1998, não em 1989.
- Olha, quem diria! Você está certa, claro, eu errei - (Minha Nossa, que mulherão!) - Ei, quer tomar um café qualquer dia desses?
- Talvez. Se você me deixar terminar essa matéria...
- Você realmente quer escrever essa coisa? É pra daqui a duas horas! E fala de política do início ao fim!
- Oh, mas política é um dos meus assuntos favoritos!
E assim a conversa foi.
Acabou que Isabela escreveu a matéria, ignorando as críticas de Fernando. Ela aceitou o cafezinho. Saíram. Foram num bar, beberam, riram, comeram. "E que vivamos felizes, Isabela, e que sejamos felizes, felicíssimos!".
Coitado, mal sabia ele que daqui a vinte anos estaria repetindo essas mesmas palavras, contrariando as estatísticas do trabalho, e fazendo valer - finalmente! - um Dia dos Namorados.
Ergue-se um cálice. É Fernando.
"Que sejamos felizes ainda por muito tempo! Que sejamos felicíssimos!"

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre um Homem

E bate novamente
O relógio.
O homem sentado à frente
Ansia pelo décimo primeiro toque.
Entra em choque.

Coitado.
Vira uma alma: um ser descontrolado.

A poltrona era macia
A brisa vinda da janela
Acaricia seu rosto.

Em sua cabeça, ela,
De todos os ângulos, corpo
Em formas decomposto.

Sempre vinha aqui
Pois a brisa o acalmava.

Então, taciturno,
Sua mente se calava.
Gostava daqui.

Ele encarava as almas passadas
As futuras e as presentes.
Se bem que uma alma
Não é presente,
É memorial.

Contudo, a decomposta em formas
Era real.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Te Preciso

Te preciso.
De todas as formas,
sob todas as influências,
em qualquer lugar ou tempo.

Te preciso,
especialmente porque és
minha primeira e principal forma de apoio.

Te preciso.
Me fazes bem, e bem lhe faço.
Mutuamente apoiados.

Teu ombro, meu choro.
Teu choro, meu choro
E meu ombro.

Não somos propriamente
Metades de um todo.
Estaríamos mais próximos a dois terços do todo.

Pois afinal, o todo gerou dois frutos.
De dois frutos e uma mãe, são três.
Eu e você, dois terços do todo.
Meu consanguíneo, mi amor, o terço final.

A tríade.
Os três reis.
O trirreino.
O tridente.

Terços, três trigos.
Te preciso.
Seu terço és maior que o meu
Apesar de matematicamente iguais.
Quer o meu terço pra ti?
Te preciso.