sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tristeza

E quantas vezes eu chorei
Sem nem mesmo querer chorar.
Quantas vezes em ti pensei
Por nada mais querer pensar.

E quantas vezes mais chorarei
Pelo futuro que nunca virá.
E que futuro é esse, meu Deus,
Que cisma a tentar se escapar.

Quanto mais nessas coisas eu penso
Mais vontade me dá de chorar.
Mas aí eu escrevo o que quero
Que venha a acontecer.

Que ironia do destino
No mesmo dia, tão bom para mim,
Você vem a me menosprezar.

Pois bem, não posso lamuriar,
Afinal, não foi minha culpa.
E lágrimas não mudarão nada.
Coitado de ti, coração, mais uma marca,
Outra cicatriz.

E menos um sorriso, menos mais uma pessoa
Menos a razão de tua felicidade.
Grande insanidade, essa minha.

De pensar que algo adiantaria
Me mostrar e me prostrar diante de ti.
Me desculpe, pequena, mas não posso prometer nada
Se isso não significa nada para ti.
Obrigado, mais uma vez, pelas lágrimas que me proporcionara.
A dor de cair não será tão grande quanto a alegria de subir.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ícones

Nesses tempos perigosos
Onde a imagem degrine o real
E pessoas são pagas para mascarar a verdade
E conter o pensamento normal
A realidade, a mais terrível realidade
É que tudo que sabemos
Já não é nosso.

Somos todos cópias, tentativas de imitação.
E numa sociedade onde se prega
A perfeição física e um pensamento correto,
Fixo, não há possibilidade da evolução de pensamento.

Ah, que saudade da iconoclastia!
Que quebrava as imagens e ídolos,
Ainda que de forma violenta.
Há algo terrivelmente errado com essa sociedade
Que penaliza a liberdade.

Há algo errado com esse mundo capitalista
Com as pessoas, com o sistema.
Que saudade daqueles tempos,
Quando - pelo menos minha vó dizia -
O amor governava aqueles dias.

Quando o patriotismo era presente
A felicidade era presente
A hospitalidade existia.
E não era somente
O terrível mundo capitalista.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Coração Fraco

Manolo olhava demais pra Lúcia. E Lúcia, menina cativa, nem sabia o que fazer. Mas não é que deu em alguma coisa?
O cara, malandro como era, e já doidinho com ela, arranjou tempo, lugar e transporte. E a garota, caidinha, não resistiu e disse que era amor eterno, que ia ser pra sempre. Manolo, por fim, concordou com a moça. E ficaram juntos.
Por um tempo.
Um tempinho só.
Afinal, o Manolo era homem de uma, mas seu coração derretia fácil. Quando firmava um namoro, ficava naquilo, mas, se outra interessasse, acabava tudo por essa outra. E não é que foi o que aconteceu?
E o interessante é que as duas eram amigas do peito, nada separava uma da outra. A Mari, que via a felicidade da amiga, dava uns bons conselhos pro Manolo, e ele ia seguindo a vida com a Lúcia.
E foi aí que ele percebeu que ela já não dava mais pra ele.
Acabou caído pela Mari. E foi se insinuando, se insinuando, até que ela começou a olhar pra ele de um jeito diferente, também. Que fazer? O coração é fraco, como diz a própria.
E foi uma luta. Os dois recém-amantes faziam juras e mais juras, e olhavam-se nos olhos, ficavam, gostavam e ficavam de novo. Mas como contar pra Lúcia e acabar com a amizade?
Não teve jeito.
Foi o que Manolo decidiu. Ele foi até a Mari e falou pra ela que teriam de contar pra Lúcia de qualquer jeito. A Mari, agoniada, chorou, brigou, gritou. Mas cedeu. E foi conversar com a Lúcia.
Coitada.
Ela chorou. E gritou mais. E brigaram, brigaram demais. A amizade quase acabou. Pois é, o coração é mesmo fraco. Tudo por causa do Manolo.
Mas chegou num ponto que não teve outro jeito. Lúcia fungou, respirou, mas foi de cabeça erguida até os dois e deu a sua bênção. E eles estão lá, firmes e fortes, até hoje.
E pensando bem, o casal combina. Manolo e Mari. M&M.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Liberdade

Queria ao menos
Uma vez
Me sentir livre
E livre ser.

Mas quanto mais livre penso que sou
Mais preso ao mundo estou.
E coisas mundanas, de repente
Num lampejo, me vem à mente
Ignorando meus soluços,
Minhas reclamações.

Cada vez mais eu tento livrar-me,
E cada vez menos livre estou.
Qual é o conceito dos burgueses
Para liberdade?
É algo solto, sem idade,
Sem mundo e sem compromissos?
Não sei. Acho que não.
Se fosse, livre eu seria.
Mas livre não sou.

Que serei?

Se não sou liberdade,
Sou escravidão?
Maldita maldade
Dos ricos em ascensão.

Como são lindos os burgueses
Livres, belos, finos,
Escravos da sua própria riqueza.
Será esse o conceito de liberdade?

domingo, 10 de julho de 2011

O Que Se Passa

Rápido o tempo passa
E rápido ele discorre.
Anda como nada andou
E anda como fosse voo.

Fala que tudo passa
Mas na verdade nada se passou.
Antes que tudo acabe
Na verdade tudo já acabou.

E num pisco de cílios quebrados
A vida se esvai, num sonho apaixonado.
Leitos perfeitos esperam
Os áureos da morte.

Linhas finas e tortas da vida
Que fazem um universo de percepções.
Antes de tudo, contudo,
Acabam-se as emoções.

sábado, 9 de julho de 2011

Calmaria

O que foi feito não fará
De novo
Não será como as ondas no mar
Que batem, voltam e rebatem
Num ritmo infinito
Apaixonante, porém louco
Estilo do mar.

E nesse movimento
Que vai, vem e volta
Faz e refaz
De novo
Tudo o que foi um dia
Já que não volta
O que seria de nós
Sem o gostinho do mar?

A vontade de voltar
E refazer o que já fez
De regressar e repetir
De redescobrir
E de acabar.

Mas, como tudo,
Tudo acaba.
Um dia passa.
E não volta.
E depois, tudo fica calmo,
Límpido.
Como o mar.
Que escurece, amedronta,
Quebra, enfurece,
Mas depois, resolve por si mesmo,
Contrariando todas as previsões,
E chocando todos os corações.