quinta-feira, 31 de março de 2011

Ele & Ela

Ela pensa em como ele está bonito hoje.

Ele pensa nas suas curvas.

Ela pensa em como eles poderiam ser felizes juntos.

Ele quer saber quando irão para o seu apartamento.

Ela gosta do charme dele.

Ele gosta do seu sorriso.

Ela quer viver ao seu lado.

Ele já está pensando em outra.

Ela gosta do jeito que ele passa os dedos nos cabelos.

Ele gosta do jeito como o decote dela é.

Ela gosta da sua maturidade.

Ele gosta da sua infantilidade.

- ou seria o contrário?

Ele a observa.

Ela desfruta.

Ele escuta.

Ela lembra.

Ela: é amor.

Ele: é ardor.

terça-feira, 15 de março de 2011

Bandeira Branca

Depois de guerra constante
Soldado hasteia bandeira branca
Cansado, sacode a poeira
Cansado ele levanta
Anda, soturno e relaxado
Para o campo adversário
Não vê o perigo escondido
Não vê bombas entrincheiradas.

E lembra da sua bandeira branca a sacudir com o vento
Vê, com olhos brilhantes que não mentem
As armas caírem, descontentes
Um estrondo metálico vagando pelo ar...

Lá se vai, passando por casas abandonadas
Portas abertas, escancaradas
Mundos perdidos, esquecidos
Num mar de luta sem fim.
Pessoas com olhos abertos
Assustadas com essa coragem recém-revelada
Que veio do âmago do ser.

Essa vontade de desistir
De não aguentar mais
De não poder mais nada fazer
Pela paz,
É inferiorizada
Por justa causa, causa dela
Guerras são finalizadas
E feito ela, diplomatas
Resolvem conflitos eternos.

Essa bandeira branca
Solução de tudo, resolve o mundo
Obstinada, resolvida a ceder.

E ela balança, quietude
Silêncio, eternidade
Símbolo de paz.


João Lucas Fernandes de Sá

domingo, 13 de março de 2011

Sonhar

Deito, fechando olhos
Apagando pensamentos
E pensando em dormir.

Viro, rolo de lado
Olho a parede
Divago
Profundamente.

Fecho olhos de novo
Concentro em expulsar pensamentos
Novamente pensando em dormir.

E durmo
Viajo inconscientemente
Tenho um sonho puro
Que domina mente
E me leva longe
Nas costas do ar.

Viajar
Por estas estradas longínquas
Correr por montanhas
Andar por baías
E chegar no mar.

Olhar essa espuma branca
Bater em pedra
E fazer a pedra
Virar areia branca
E fazer de novo, mais uma vez.

Sentar num muro
Encostar em árvore
Sonho profundo
Mas que vontade
De viver aqui.

Gosto de olhar o mar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Contato

Criança, criança bonita de se ver
Tem pé no chão
Criança bonita, bonita de ser
Tem coração
Tem uma bola no pé
Num campo de futebol.

Jogando passam-se as tardes, lentas
Enquanto longe ouvem-se adultos
Chamando nomes ao sabor do vento.

Chamando nomes
Nomes só
Ao sabor do vento
Vento,
vento,
Vento.

Contato com essa Terra nossa
Contato bonito de se ver
Dá sorrisos, vontade e alegria
De viver.

Criança joga, joga tranquila de pé no chão
Porque a mãe-Terra, sua protetora
Está olhando de cima, armadora
De precisão.

E passam as tardes, lentas ao sabor do vento
Ao calor do Sol, ao seu intento
E passam noites ao léu
Com o gosto de ar, de verão, ão,
Verão.

E chove, chove mãe-chuva
Chove que os filhos da Terra estão aqui
Vivendo a vida, vida querida
Abençoada por aqueles que já foram.

Contato com a mãe-Terra
Vivendo numa dança eterna
Ao sabor do vento e do verão.

terça-feira, 8 de março de 2011

Carteado

Numa mesa, quatro velhos se encontram
E, com sorrisos, sentam-se e ameaçam
Uns aos outros com olhares tenebrosos
- Que houve, será os nervos dos anos que passam?

Por que será, que nessa mesa
Há falsidade?
Esses velhos, coitados
Puras inverdades.

Um deles requisita um baralho
Ao balconista, com um olhar amedrontador
E o balconista, tremendo, sofredor
Entrega ao mandante o carteado.

O mesmo que fez o pedido
Senta-se e dá as cartas
E de cinco em cinco
Chega a vinte.

Cada velho, vassalo do jogo
Recebe as cartas, e olha em volta
- Não sabe o jogo, mistério -
Abaixa as cartas e faz suas apostas.

A cada vez, valores sobem
Aumentam exponencialmente
Até que um, e simples um
Ganha o jogo, finalmente.

Nesse ínterim
De diversão dos velhos
Que se há em volta deles?
Não sabem, pensam
Carteado, carteado, carteado
Não veem, fixam
Carteado, carteado, carteado.

domingo, 6 de março de 2011

Vizinhança Pertubada

Era aquela casa. Sim, eu sabia. A voz no telefone me contou, tudo certinho, nos mínimos detalhes. Casa amarela, telhado caindo aos pedaços, na Rua Rosa.

Bati. Três toquezinhos pausados. Era a senha.

Veio uma moça. Moça bonita que você nem imagina. Pele branca como nata, um corpo delicado e generoso, rosto suave e com uma ruguinha na testa. Achei bonita. Só não gostei do cabelo. Ruiva.

Entrei. Entrei satisfeito, porque lá fora estava um toró de alagar.

Fiquei calado enquanto a moça bonita ia na cozinha buscar um chá, quando ela voltou, me mandou sentar no sofá.

Peguei o chá. Chá quente é gostoso em dia de chuva forte. Melhor ainda quando tem uma moça bonita na sua frente. Pena que puxou um cigarro da bolsa e começou a fumar. Empesteou o ambiente.

A moça começou a falar. Eu não entendia nada, tava prestando atenção nas curvas dela, embora o falatório me desse a impressão que ela fosse muito mais velha do que aparentava, e eu não ia perguntar quantos anos ela tinha. Ah, não ia, porque me falaram que é falta de educação. Mas quando ela veio me perguntar quem era eu, respondi que era o Fábio, que ela não precisava se preocupar porque eu não mordia, que eu era só mais um nesse mundão de Deus. Que eu fora ali pra falar com ela, contar meu caso, e ela contar o dela. Só queria um pouco de prosa.

A moça disse que tudo bem, então começou a falar e então eu prestei atenção e as curvas dela não me interessavam mais. Eu queria as histórias da moça.

“Bom Fábio... é Fábio né?... Bom, Fábio, vou te contar a minha história da Rua Rosa, desse Bairro das Hortências, e dos negócios que de vez em quando aparecem por aqui. Você tinha me ligado né?... Como é que conseguiu meu número?”

Falei que o número dela era conhecido de todo mundo por lá, até de você, não era? O número mais simples por aí: 0000-0001. Falei também que se ela conta o número pra alguém, vem mais gente, sim, ah se vem! Vem gente até de fora do bairro pra ver a Dona... Dona o quê mesmo?

“Dona Rosa.”

Dona Rosa? Então era o mesmo nome da rua! Pois então, vem gente até de fora pra ver a Dona Rosa, e eu vim porque alguém disse pra mim, que a Dona Rosaentende muito bem as coisas, ela sabia até porque que dava chuva, e ela conhecia tudo o que se dava pelo bairro. Tinha lá seus jeitinhos de conseguir saber. Mas eu não sabia. Por isso que eu vim, não vim? Eu vim pra saber. Pois então, Dona Rosa, comece a soltar o que você sabe.

“Pois bem, você sabe o Mário? Não? Pois então, deixa eu falar. O Mário é um velhinho que mora na Rua Rosa desde sempre. Nunca sai, nunca faz nada, e é aposentado, ainda por cima. Ganha também com doações, as quais ele gasta em cassinos. O coitado ainda tem uma esposa, uma mulher com um quarto da idade dele. Enquanto ele tem oitenta e tantos, ela tem vinte e poucos. Ele é terrível. Pessoa vergonhosa, que mancha nossa história. Ela é muito boa. Um amor de pessoa, já veio aqui me perguntar se eu estava bem infinitas vezes, me ofereceu lanches, já fizemos piquenique. Já vou te contar o que o Mário fez com a coitadinha da Vivi. Ah, é, esqueci de contar, o nome dela é Viviane.”

“Mas antes vou te falar desse pessoal que mora na rua. Já conhece o Mário e a Vivi, mas espera só que eu vou buscar mais chá e você não sai daqui, hem? Espera que te conto o resto.”

E a moça saiu, eu ouvia a Dona Rosa lá remexendo nas coisas da cozinha e derramando do bule o chá para a xícara. Enquanto isso fiquei pensando no que o Mário poderia ter feito. Ele parece um cara tranqüilo, mas você não sabe o que ele fez, nem eu. Que que será que aconteceu, pra Dona Rosa ficar desse jeito? Não sei, não sei, só sei de uma coisa: Não confio nesse Mário, não. Quanto à Vivi, será que ela fez alguma coisa, já que ela parece tão inocente? Pra mim, gente inocente é normal, mas INOCENTE DEMAIS tem alguma coisa na muamba. Ela tá nessa história, aposto. Mas a Dona Rosa está voltando.

“Já te falei do Neto? Ah é, eu falei foi do Mário. Mas o Neto também é outro que só faz besteira. A mulher dele, a Mariane, é literalmente um cão chupando manga, o Neto chupou a manga e deu o bagaço pros amigos. A “bagaceira” sai com os primos do Neto a troco de grana. Pois é isso. Além dela ser uma vendida, ainda temos o Edu, o Eduardo, aqui do lado – e apontou pra parede do lado esquerdo – que é comerciante. Secretamente ele contrabandeia folhas de coca da Colômbia, faz a cocaína por aqui, usando como fachada a Homus & Húmus, a empresa de jardinagem dele, com produtos masculinos. Você nem imagina o trabalho que eu tive pra descobrir isso. Tive que invadir a casa dele pra ter certeza. É, estou velha mas ainda consigo arrombar uma porta de carvalho e desligar o alarme antes de chamar a atenção de alguém.”

Pô, agora fiquei confuso. Nessa rua só tem cinco moradores, e quatro casas. O tal do Mário e a Vivi moram em uma, a da esquina da Rua Margarida com essa Rua Rosa. Essa aqui é a da frente, na Rua Rosa com a Margarida, também. A do lado esquerdo é a do Edu, que também fica em esquina, a esquina dessa Rua Rosa com a Rua das Hortênsias. E a de frente pro Edu é a do Neto. Ah, entendi, mas ainda quero saber o que que esses caras fizeram. Vou ver o que a moça me diz agora, mas a moça falou que ela era velha. Isso está me atormentando desde que eu vi a Dona Rosa. Quantos anos ela tem? Ela é muito bonita, e boa de papo também, mas – Raios! – quantos anos será que ela tem? Eu preciso saber, senão vou ficar louco, aí a velha vai ficar falando sozinha porque eu vou levantar e sair da casa, e é bem possível que eu me roa de remorso por deixar uma velha falando sozinha.

“Bom, já vou te falar do Mário. Te disse que ele joga nos cassinos, não disse? Pois bem, ele, viciado do jeito que é no , perdeu tudo, a casa, o carro, o cachorro, as ações, até a mulher – a ex-mulher, a anterior da Vivi. Porque essa mulher, a Dani, largou-o e ainda deu jeito de tomar o que sobrou dele – a herança da mãe – nos tribunais.”

“Assim, lá estava o Mário, sem nada, pedindo esmolas na rua, e a Vivi, boa como é, levou ele pra sua casa, bem aqui, na Rua Rosa. Antes da Vivi e antes das esmolas, com a Dani, o Mário morava em Copacabana. Esse homem – bobo não é – deu jeito de ir, com calma, pouco a pouco, tomando o que era da Vivi, com muita persuasão, até que chegou num ponto em que ela não tinha mais nada e ele tinha tudo o que era dela – e assim ele recuperou a casa, o carro, o cachorro – e ainda ganhou uma mulher de bônus (ainda mais bonita que a primeira, só para constar.”

“Mesmo depois tomar tudo o que era dela, o mostro não ficou satisfeito, ainda fez ela ficar ‘sob controle’: prendendo-a, Mário a mantém dentro de casa, não deixa ela sair, nem ligar pras autoridades, nem dar um telefonema. Para os amigos ela morreu. Ela só veio aqui um dia, por minha causa. Sempre que posso, vou lá e solto ela – já mencionei que eu sei arrombar casas sem disparar o alarme? – e daí vêm todas as nossa saídas juntas, embora eu já tenha dito a ela para fugir, e a medrosa não foge, tem medo do marido. Essa é a história do Neto e da Vivi.”

Mas que história complicada, poxa. Você entendeu? O cara perde tudo no jogo, depois vai mendigar, é recolhido por uma mulher, tira tudo dela e a mantém presa. O homem é um sociopata invicto. Ninguém que eu conheça é melhor que ele.

Pô, mas nessa vizinhança tem de tudo, Dona Rosa. Tem mais alguma coisa que eu possa saber?

“Ah, tem muitas, Fábio! Deixe-me relembrar as histórias.”

A velha (nem tão velha) fechou os olhos e ficou em silêncio. Depois de dois minutos eu não estava entendendo mais nada. Ela apagou? Morreu? Tomou um calmante forte demais? Que que aconteceu com a Dona Rosa?

Olhei em volta para observar o lugar. Gostei. As paredes eram de tijolos vermelhos, com telhado marrom. Tinha um monte de incensos distribuídos pela sala. O impressionante é que eu só notei que o sofá era vermelho agora.

Levantei e fui dar uma volta. Vi a cozinha, de cerâmica azul-escuro com bancada de inox, mesa de madeira e cadeiras desparelhadas, com louça também desordenada e de cores e estilos variados.

Vi também o banheiro, de cerâmica trabalhada em verde, com o vaso preto e a pia em amarelo. A casa toda era basicamente estes cômodos, excluindo os quartos, que eu não ousaria explorar sozinho.

Quando voltei à sala, Dona Rosa estava acordando de seu transe. Pelo visto, relembrara muitas coisas, pois já acordou falando o resto das histórias.

Não peguei tudo o que ela disse, mas o que eu lembro estou contando aqui:

“... Pois é isso, meu filho. Agora vou te contar do Neto. Ah, o Neto, o maldito Neto. Esse aí não é flor que se cheire não, amigo. Quando era pequeno, eu via ele roubar dinheiro da mãe, mas não falei nada, e não falei nada até hoje. Mas vou contar a história, gostando ou não.”

“ Com quinze anos, o diabo do Neto já era trombadinha e vândalo. Trombadinha não, já era mais, já ouvi falar que ele roubou uma senhora que saiu do teatro, depenou ela de todos os diamantes e saiu gargalhando. O desgraçado ainda pichava todos os muros que via pela frente, não deixava só um ‘liso’.”

“Pior ficou quando conheceu Mariane. Numa festa escolar, na roda de álcool e drogas, com dezesseis ele a conheceu. É, ela tinha quantos mesmo? Uns 14? Sei lá, mas o que eu sei é que já tinham rumores. Naquela época já diziam que ela era uma vendida, que qualquer um com cinquentão no bolso tinha ela por duas horas.”

“Bom, no final ele ficou com ela – por duas horas, diga-se de passagem – e aí os dois ferraram no namoro. Namoro não. Vício compartilhado, porque já diziam os amigos deles que os dois aspiravam mais que aspirador de pó. Pois é, o negócio estava brabo daquele jeito.”

“Pior de tudo foi que quando o Neto ficou ‘de maior’, como diz ele. Largou a Mariane – não que isso tenha sido algo ruim – e saiu bebendo a céu aberto, fumando todo tipo de cigarro, inclusive depois que conheceu o Edu, que arrumava também maconha, e garantia uns ‘descontinhos pros amigos’.”

“Mas no final todo canalha tem sua lição, né? Foi parar no pronto-socorro, de overdose, e quando a única a ir visitá-lo lá foi a Mariane, viu que estava no fundo do poço mesmo. Tentou largar as drogas, não conseguiu, e no final os dois continuaram juntos, mas ainda aspirando que nem aspirador de pó, sem parar nem um minuto. Por isso quase nunca saem. Se você olhar a janela, muito provavelmente vai ver ambos no tapete da sala, agachados em frente à mesinha, com canudos no nariz e um pozinho branco aos montes em papelotes. Se bobear, eles não comem, cheiram.”

“Mas enfim, o que eu odeio com todas as minhas células desse velho corpo, são vendidas. E a Mariane devia ser coroada Rainha das Vendidas. Dá pra qualquer um, em qualquer hora, desde que lhe deem um daqueles papelotes. É, não é mole não. Aquele canalha do Neto ainda deixa, passa pros amigos e primos, porque todo mundo perto do Neto tem a ver com o tráfico, já te falei isso? E aí, todo mundo que fica com a Mariane dá alguns daqueles papelotes. É como um comércio de trocas. ‘Mariane por um papelote’.”

“Agora só falta o Edu, que é rapidinho. E como está entardecendo, vou só te falar rapidinho, porque detalhadamente não dá. O tempo acabou.”

“Dizem que ele foi um traficante importantíssimo na Colômbia. Me falaram que ele é brasileiro, mas antes dos seis meses foi pra lá. Se envolveu com as drogas antes dos quinze, mas nunca usava, só comprava e vendia.”

“Quando a polícia descobriu seu negócio, teve que fugir do país, e agora não pode nem pensar em voltar pra Colômbia, que eles acabam com ele.”

“Assim que ele chegou aqui, iniciou uma pequena empresa, depois de tirar falsos documentos, é claro. Mas enfim, fundou a Homus & Húmus, que como já disse, é fachada para a produção e venda de cocaína. Dizem que também faz lavagem, mas nunca nada foi provado.”

E, Dona Rosa, você não tem medo, não? Assim, com uma vendida bem próxima, um sociopata, um traficante, um viciado, uma escrava por perto, tu não tem medo não? Além do mais, uma senhora como você – quantos anos ela tem?! – não pode ficar desprotegida, não é?

“Bom, meu filho, digamos que eu estou protegida, e que mesmo se eu morrer, a polícia VAI pegar quem me matou. Por hoje é só. Agora, está na hora do adeus, não acha?”

Sem esperar segunda ordem, me levantei e me direcionei à porta, abri, e tive a surpresa de ver que estava um solão sem nuvens, sem congestionamento, sem nada.

Ante à essa nova imagem, prestes a cruzar a porta e já com um pé fora da soleira, tomei coragem, virei e perguntei à Dona Rosa:

-Moça, quantos anos você tem, mesmo?

-Ah, querido, isso não se pergunta a uma dama.

Ela levantou, e calmamente fechou a porta.

Resignei-me com essa “resposta lacônica”, virei-me e saí a passos largos pela rua cheia de musgo.


João Lucas Fernandes de Sá

sábado, 5 de março de 2011

Ilusão

Deito de olhos fechados
Viajo sem viajar
Não tenho passaporte
Nem paguei pra te amar.

Mas meus sonhos me levam
E relevam meus pensamentos
E subconscientemente eu reconheço
Já não sou eu, não sou meu
Sou seu.

Viagem fora-da-lei
Inconstitucional
Passo por cima de qualquer edito
Para ver-te
- valentia irracional.

Não pense que sou um apaixonado
Na verdade, não sou
Mas imagino como seria ser um poeta amado
E amar outro alguém.

Hoje meu amor seria maduro
E tocaria meu coração
Com o seu mel inexistente
E como inseto persistente
Estaria ali, a me observar.

Mas não há.
Pois então, concluo
Que no meu mel
Mel não é meu.
E que o meu amor
Faz-se sozinho
Imaginário.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Barco

Coração, barco balançante
Que corta, vagaroso
Um mar de emoções.
Que tem a última palavra
Que domina a mente.

O barco balançante é assim.

Sendo que ele anuvia
Os pensamentos
Do dia a dia
E bate forte
Faz a carga
Balançar.

E corta o mar
E corta o vento.

E leva os homens, marrentos
Leva mulheres, choronas
Leva passaportes de amor.

Corta o céu
E corta as estrelas
Alcança um mundo desumano
Ultrapassa tudo e vence todos
O barco, balançante.

Balançando e balançando
Inclinando-se e lutando
O barco cruza o tempo
O espaço, o ar.

O barco alcança tudo
O que for possível
Imaginar
Porque o barco balança, sim
Mas não cai.


João Lucas Fernandes de Sá

quarta-feira, 2 de março de 2011

Viagem Natural

Chovem estrelas de noite
Chovem raios de manhã
Chovem dias
De alegria
Todo dia.

Viaja em nuvem
Deitado no céu
Nadando na
Via Láctea.

Vejo a vida
Viajo em
Imaginação.

Olha, querida
Falo de minha viagem
Da nossa viagem
Falo das nossas estrelas
Dos nossos raios de sol.

Chove, chuva
Bate na porta
Sacode o vento
Tira o barro da bota
E sobe pro céu.
Me leva contigo?

Veremos o luar
Veremos o dia virar noite
E a noite virar
Dia.

Viajantes naturais.

João Lucas Fernandes de Sá

Selva de Concreto

Ouço sussurros velhos
De motores mortos
De motos velhas
De homens sórdidos.

Ouço a mentira
Nos barulhos estranhos
A falsidade
Nos olhos claros.

Vejo a maldade na selva de concreto.

Vejo a ilusão
No manto negro que se impõe,
Autoritário,
Na saída do Sol.

Assisto ao beijo
Da pólvora
Do fogo
Que consomem-se.

Mas não vejo
A humanidade.
Não compreendo
As investidas
Animais
De traição.

Selvageria
Na selva de concreto.

O pensamento
Corroído
Destruído
Pela maldade humana
Tornou-se uma simples esquiva
Um distanciamento
Dos seus semelhantes.

Maldade indiscutível
Que denigre
A imagem humana.

Maldade
Na selva
De concreto.

João Lucas Fernandes de Sá